É verdade.
O vídeo em que Dilma associa a autonomia do Banco Central a um prato de comida na mesa de brasileiros simples vende o medo.
Agora: que candidatura, entre as três grandes, não está vendendo a mesma coisa, o medo?
Desde o princípio Aécio tem dito que se Dilma ganhar viveremos o caos. A inflação vai explodir, a economia vai entrar em colapso e estaremos todos fritos.
Essa foi a mercadoria que Aécio vendeu já na largada.
A pregação apocalíptica de Aécio recebeu a contribuição milionária de uma consultoria de investimentos chamada Empiricus, que num texto antológico disse que o Brasil ia acabar.
Não foi pequena a ajuda da mídia na venda do terror econômico para o qual Aécio era a única solução.
Marina não fez coisa diferente nem, antes dela, Eduardo Campos.
Essencialmente, o que Marina tem dito é que todas as conquistas do Brasil nos últimos vinte anos – estabilidade econômica e avanços sociais – serão perdidas caso Dilma obtenha mais um mandato.
Vender o medo é um clássico em campanhas eleitorais, e não apenas no Brasil.
Nas últimas eleições americanas, Obama fez sua campanha dizendo que Romney seria uma desgraça para os pobres nos Estados Unidos. Vendeu o medo.
Romney dizia que Obama destruiria a economia americana. Vendia também o medo.
O fato é que o medo é um eleitor fortíssimo, e por isso mesmo candidatos em toda parte recorrem a ele para se promover e ao mesmo tempo rebaixar os rivais.
Mesmo assim, mesmo com a banalidade absoluta do uso do medo para angariar votos, há acusações pesadas contra Dilma, como se ela houvesse inventado esse recurso.
Um colunista da Folha chegou a dizer que ela deveria se envergonhar pelo vídeo que ligava o Banco Central à comida de uma família.
Pode não ser o vídeo mais criativo do mundo, mas por que razão alguém haveria de se envergonhar de algo que todos usam copiosamente?
Na Veja, a coisa foi ainda mais engraçada. Num tom recriminatório, alguém disse que o objetivo dos ataques de Dilma a Marina era mostrar que ela não faria um bom governo.
Pausa para rir.
Só faltava Dilma se esforçar para convencer os eleitores de que Marina será uma ótima escolha.
Há muitas coisas para criticar na gestão de Dilma e em sua campanha, naturalmente.
Mas dizer que ela vende o medo, como se os demais vendessem coisa diferente, é de um cinismo insuportavelmente cínico e boçal.