A manchete que não deveria existir. Por Moisés Mendes

Atualizado em 21 de agosto de 2022 às 9:38
Compilado de manchetes que não deveriam existir. Reprodução: Blog do Moisés Mendes

 

Imaginem o Bragantino, que corre muito atrás do Palmeiras e dificilmente poderá alcançá-lo, admitindo que, se o time paulista for campeão do Brasileirão, o resultado será aceito.

Imaginem alguém, em qualquer disputa, participar de uma competição e avisar, como se fizesse uma concessão, que aceitará o resultado do jogo.

Bolsonaro ganhou manchete dos jornais neste sábado ao dizer em depoimento em vídeo, depois de motociata na Via Dutra, que se submeterá ao que o eleitor decidir em outubro.

Bolsonaro disse bem assim:

“A gente está nessa empreitada buscando a reeleição, se esse for o entendimento. Caso contrário, a gente respeita. Mas a nossa democracia, nossa liberdade acima de tudo”.

Há um “mas” no começo da terceira frase. Por que o mas? Por que “mas” a nossa democracia e a nossa liberdade acima de tudo?

Os jornais deram a promessa de Bolsonaro de manchete. A Folha estampou:

Bolsonaro faz campanha na Dutra e diz que respeitará resultado se não for reeleito

O Globo:

Bolsonaro diz que respeitará resultado se não for reeleito.

O Estadão deu como segunda chamada:

Bolsonaro diz que respeitará urna se não for eleito

O objetivo é o de fazer com que Bolsonaro passe recibo, depois de ameaçar com o golpe.

Se o sujeito afirma que respeitará o resultado da eleição, poderemos cobrá-lo mais adiante.

É uma concessão do jornalismo ao fascismo. Não é porque disse que respeitará a eleição que Bolsonaro não atiçará as hienas, às vésperas do pleito, se sentir que será derrotado.

A concessão da manchete expõe ainda um constrangimento. Os jornais valorizam uma promessa de Bolsonaro, como se a aceitação do resultado da eleição dependesse dele.

É como se os jornais dissessem: ó, pessoal, Bolsonaro, o poderoso, aceitará a vitória de Lula. A notícia deveria ser dada num canto de página.

Uma manchete como essa não teria sentido nem em 1989, se os militares dissessem que aceitariam os resultados da primeira eleição para presidente depois do golpe de 64.

Bolsonaro, os militares, os milicianos, os PMs, os atiradores e os colecionadores de armas, os tios golpistas milionários do zap, todos eles terão de aceitar o resultado da eleição.

O resultado a ser aceito será, é claro, a vitória de Lula. É disso que Bolsonaro está falando.

Chega de dar manchete para um falso Bolsonaro fofo, que não irá se conter se sentir que está enrascado.