Publicado originalmente na página do Facebook de Walter Falceta.
Há quem imagine que o grupo golpista do Véio da Havan represente uma novidade. Ledo engano. Durante a Ditadura Militar (1964 – 1985), o terror repressivo foi apoiado e sustentado por empresas como Ultragás, Folha da Manhã (Folha de S. Paulo), Volskswagen, Ford, GM, Objetivo, Grupo Camargo Correa e Bradesco.
Entre os que se recusaram a participar desse consórcio do crime, figuram o empresário Antônio Ermírio de Moraes, da Votorantim, e José Mindlin, da Metal Leve.
Antes, no início do governo militar, Mario Wallace Simonsen, da Panair, também havia recusado apoio à intervenção militar. Como punição, sua empresa teve seu certificado de operação cassado em Fevereiro de 1965. Situação semelhante levou à decadência da Companhia de Vidros do Brasil, de Sebastião Paes de Almeida.
Entre os entusiastas da maldade, ninguém pode rivalizar com o dinamarquês Henning Albert Boilesen, presidente do Grupo Ultragás, um dos financiadores da Operação Bandeirante (OBAN), organismo que tratou de capturar, torturar e matar os opositores do regime.
Boilesen mantinha estreitas relações com a CIA e manifestava satisfação em assistir às sessões de tortura no DOI-CODI, fato confirmado por militantes de esquerda e de direita. Durante as sessões de violação sexual, afogamento e eletrocução, o empresário gargalhava, geralmente embriagado pelo consumo de uísque escocês.
Sua obsessão em ver o sofrimento alheio era tão grande que trouxe dos Estados Unidos uma máquina de eletrochoques, acionada por teclado, que causava graves danos físicos e psicológicos aos capturados. O equipamento de tortura ficou conhecido por Pianola Boilesen, em sua homenagem.
Em muitas ações repressivas da OBAN eram utilizados veículos do Grupo Ultragás. De colaborador, portanto, Boilesen passou a protagonista no cenário da repressão política. No centro clandestino de tortura, na Rua Tutoia, 921, em São Paulo, Boilesen era tido como um dos chefes do projeto de aniquilação. Providenciava equipamentos de suplício e pessoalmente gratificava os carrascos. Pelo menos 52 pessoas foram sacrificadas neste templo do terror.
Assim, o Movimento Revolucionário Tiradentes (MRT) e a Ação Libertadora Nacional (ALN), a mesma de Carlos Marighella, assassinado em 1969, resolveram promover uma ação direta para “justiçá-lo”.
Na manhã de 15 de Abril de 1971, ao chegar à Alameda Casa Branca (a mesma via na qual Marighella fora assassinado), Boilesen foi encurralado por dois carros.
O empresário conseguiu esquivar-se de um projétil, deixou seu veículo e saiu correndo pela rua, na direção contrária à dos carros. Porém, não foi o suficiente para escapar. Recebeu uma saraivada de balas de metralhadora e mais três tiros de fuzil. Caiu morto na sarjeta, ao lado de um Fusca (Marighella fora morto num carro do mesmo modelo). O grupo de ataque fugiu em direção à Avenida Paulista.
A grande imprensa corporativa lamentou a morte do notável empresário, viu perda irreparável para o Brasil e exigiu a prisão e condenação de seus executores.