Por Moisés Mendes
Começam a surgir, como aconteceu em 1989, os avisos de grandes empresários que pretendem deixar o Brasil se Lula for eleito.
Na primeira eleição para presidente depois da ditadura, o emissário da ameaça era Mario Amato, presidente da Fiesp. Ele previu a fuga de 800 mil empresários.
Amato não era necessariamente uma figura caricata, mas era um sujeito estranho, um velhinho ainda assustado com o comunismo. De onde sairiam 800 mil empresários com medo de lula? Para onde iriam esses 800 mil empresários?
Era uma ameaça ridícula até para a direita. Mas ninguém podia acusá-lo de atos ilícitos ou de sonegação de impostos. Nem de disseminação de mentiras (sim, naquela época a difamação também existia).
Nunca ouviram dizer que Amato estivesse envolvido em delitos financeiros graves, como lavagem de dinheiro ou contrabando. Era um empresário correto.
No fim, o presidente da Fiesp se rendeu a Lula, que finalmente foi eleito em 2002. Ninguém fugiu do Brasil. Eu entrevistei Amato por telefone, dois anos depois da eleição de Lula.
Ele admitiu que havia mudado, que as ameaças de 1989 foram feitas num contexto de medo e de rejeição total a Lula e que ninguém precisava temer mais o PT.
Posto ao lado dos extremistas de hoje, Mario Amato seria um grande democrata. O empresário temia, como muitos outros, que Lula adotasse medidas contrárias aos interesses do capitalismo predatório.
Nunca aconteceu nada nessa direção. Nem Lula nem Dilma, em 13 anos de governos do PT, até o golpe de agosto de 2016, fizeram o que Amato achava que fariam, ou inventava que poderiam fazer.
Os golpistas de hoje tentam reagir a uma nova eleição de Lula por outros motivos. Não há medo de comunismo, porque o PT já foi testado no poder, com quatro eleições em sequência.
O que os poderosos de hoje temem é que, com a perda de poder político, sem a proteção do fascismo que se apropriou do governo, eles fiquem sem retaguarda.
Os tios do zap, que tramam o golpe, temem que Ministério Público e Justiça possam atuar com a autonomia que não têm hoje.
Esse é o medo dos que ameaçam ir embora. Eles sabem que mudanças no ambiente político terão repercussão nas instituições.
E que as instituições podem pegar muita gente impune sob a asa do bolsonarismo. Esse é o temor com a eleição de Lula.
Essa história de comunismo é uma farsa, é a desculpa de criminosos que passaram a ter medo dos organismos de Estado e do sistema de Justiça.
Texto originalmente publicado no BLOG do autor.