Lula troca o genocida pelo bobo da corte. Por Moisés Mendes

Atualizado em 26 de agosto de 2022 às 9:26

Os mais alarmistas temiam que Lula fosse cercado por William Bonner e Renata Vasconcellos e obrigado a dizer se iria continuar chamando Bolsonaro de genocida.

Se dissesse que sim, poderia parecer arrogância e agressividade. Se saltasse fora e desse uma volta, poderia sugerir recuo e acovardamento.

Nada perguntaram. E Lula teve a chance de trocar o genocida, que para o povo pouco significa, pelo bobo da corte que não manda em mais nada.

O TSE não deverá recomendar à Globo e ao YouTube que retirem a citação dos seus arquivos. Não há o que tirar ou botar da entrevista de Lula ao Jornal Nacional.

Não há como fazer reparos nem mesmo à postura dos entrevistadores. Bonner e Renata se renderam à grandeza de Lula.

Não havia o que fazer, a partir dos cinco minutos, quando Lula sentiu que a conversa iria fluir com naturalidade, porque assumira o controle da situação.

Lula salvou o Jornal Nacional como palco de entrevistas. Os entrevistadores ganharam uma sobrevida que vinha sendo ameaçada por suas inseguranças.

E Bolsonaro arranjou mais um problemão, porque genocida não é nada perto de tchutchuca do centrão e agora de bobo da corte.

Bolsonaro, o sujeito que empobrece as analogias, voltou a ser carimbado, não por um youtuber que poucos conhecem, mas por um ex-presidente da República.

Lula arranjou um jeito de dizer que Bolsonaro não manda apenas no orçamento secreto. Não manda em mais nada no governo. Manda apenas na Procuradoria-Geral da República.

Foi o mais inspirado momento de Lula desde que se libertou do cárcere político da Lava-Jato. Teve agilidade mental, facilidade para encadear raciocínios (sua virtude), para citar números e para se antecipar, sempre com um sorriso, ao final das perguntas. Como se dissesse que aquela questão seria uma barbada.

Lula deu um show de política, tolerância e democracia. Ao final, já estava meio de lado na cadeira, como se conversasse com os amigos num boteco de São Bernardo.

Foi enfático ao destacar a lealdade de Alckmin, fez média com tucanos históricos, como Fernando Henrique e Serra, poupou o centrão, apelou pela pacificação, disse que vai cuidar do povo e se deu até o direito de cutucar as ditaduras da China e de Cuba.

Agora, é só esperar a reação do bobo da corte e seus milicianos. Bolsonaro não deveria nunca ter dito que Lula o ofendia ao chamá-lo de genocida.