A jornalista Vera Magalhães foi atacada pelo presidente Jair Bolsonaro (PL) durante o debate entre os candidatos à Presidência, no último domingo (28). Ela havia questionado o ex-ministro Ciro Gomes (PDT) sobre a cobertura vacinal do Brasil e acrescentou que houve desinformações espalhadas por Bolsonaro sobre as vacinas da Covid-19.
Ao chegar a vez do presidente de responder à pergunta, ele fez uma série de ataques contra Vera e disse que ela era “uma vergonha para o jornalismo brasileiro”.
Durante participação no UOL News desta terça-feira (30), a jornalista comentou o assunto e destacou traços de misoginia nas falas do presidente.
“Não tocou no assunto [da vacinação] e preferiu fazer um ataque pessoal a mim. Aí fala nessa história obsessão, que é um traço de misoginia. ‘Dorme pensando em mim, alguma paixão’, sempre associando o papel da mulher, mesmo quando ela está exercendo seu trabalho, a alguma conotação de cunho sexual. Isso é uma forma de fetichização da mulher, um traço de misoginia claro e que se repete como um padrão, que é um padrão no bolsonarismo, um padrão na fala do Bolsonaro ao longo de sua vida e é um padrão que o bolsonarismo replica na redes sociais”, disse Vera.
A jornalista também relembrou o comportamento do presidente com a jornalista da Folha de S.Paulo Patrícia Campos Mello, quando em fevereiro de 2020 Bolsonaro a insultou com uma conotação sexual. Ela havia revelado que empresas enviavam mensagens em massa pelo WhatsApp durante as eleições de 2018. Recentemente, o presidente foi condenado a pagar uma indenização à repórter.
“Quando a Patrícia Campos Mello publica alguma informação relevante, o Bolsonaro fala no cercadinho que ela queria ‘dar o furo’, que ela gosta de dar o furo e o filho dele repete a mesma coisa. São coisas absolutamente nojentas e odientas que tentam sempre remeter a mulher para esse lugar de alguém que está ou prestando algum favor sexual, ou querendo alguma coisa em troca de sexo. É horrível, mas não era inesperado, eu imaginava que ele poderia vir para cima de mim”, afirmou.
Vera ainda falou em “desprezo pelas mulheres” e destacou que o presidente não costuma ter as mesmas atitudes com jornalistas homens. “Preferiu se afastar de tudo isso [questões sobre vacinação] e me atacar pessoalmente, algo que com jornalistas homens ele não faz. Não fez no ‘Jornal Nacional’, por exemplo, e não faz em outras entrevistas com homens. Faz sempre contra as mulheres, é um traço de desprezo pelas mulheres. Desprezo que ele demonstra na fala com relação a senadora Simone Tebet, tratando com agressividade, com condescendência e com palavras de menosprezo”, declarou a jornalista.