Ciro se despe com os empresários. Por Carlos Fernandes

Atualizado em 1 de setembro de 2022 às 8:43
Ciro Gomes (PDT)
Foto: Fabiane de Paula

Por Carlos Fernandes

Costuma-se dizer que ninguém fica tão à vontade do que quando se está entre os seus. Parece que foi exatamente o que aconteceu com o candidato Ciro Gomes por ocasião de seu encontro com altos empresários na Firjan (Federação das Indústrias do Estado do Rio de Janeiro).

Descontraído e longe do temperamento irascível do qual normalmente se apresenta – até por desta feita não ter de tratar com povo – o ora pedetista se viu diante da plateia que verdadeiramente gosta: homogênea, elitista, oligarca e burguesa.

Desobrigado, portanto, do seu esforço diário para manter as aparências populares, Ciro pôde, enfim, se apresentar ao natural com seu ar de suposta superioridade sempre professoral a falar com quem no seu íntimo considera seus iguais.

E não por acaso, foi justamente nesse cenário de compadrio que o candidato se desfez de suas vestes de candidato e – ao desatar de vez a rogar seu terço de números e fórmulas mirabolantes para que o Brasil, aquele Brasil que o assistia à sua frente, pudesse finalmente deslanchar – arrematou com um “É um comício para gente preparada, imagina explicar isso na favela”.

Realmente caricatural.

Não que seja de hoje que Ciro Gomes expõe de forma convicta os seus arroubos típicos de quem, sendo colônia, adora bajular imperialista. Mas não é de menor monta o fato de que mais essa demonstração de pura arrogância e desprezo pela população mais pobre, fragilizada e mantida forçosamente à margem da sociedade se apresente sobretudo e de forma tão espontânea exatamente quando se encontra com quem pensa rigorosamente da mesma forma.

Ciro Gomes para muito além de nunca ter sido um homem que se identifica ou pelo menos se solidariza com as massas, é, muito pelo contrário, fruto justamente de uma classe social historicamente preconceituosa, racista, xenófoba, machista e hipócrita que teve seu auge de representatividade na mesma ditadura militar em que seu clã se refestelou. Por isso mesmo, não há surpresa alguma que seu primeiro partido tenha sido um esbirro do pior momento de nossa história.

Daí sua completa incapacidade de compreender o quão complexa, multicultural, sofisticada e autodeterminada são nossas periferias. Agarrar-se com tanta satisfação ao senso comum que faz querer crer que o povo favelado é incapaz de entender as causas estruturais de sua própria exploração é só mais um dos inúmeros aspectos de quem se posiciona claramente contra a classe trabalhadora a ponto de, ao acreditar que pessoas pobres não sabem o que é bom para elas próprias, querer outorgar para si o direito de decidir monocraticamente seus próprios destinos.

Aqui qualquer semelhança com o velho coronelismo não é mera coincidência.

Até por isso mesmo, apesar do nojo que esse tipo de declaração nos dá invariavelmente, não há na verdade nenhuma novidade nesse velho e desbotado discurso que vai se transmitindo de geração em geração por sujeitos como ele próprio.

O que realmente assombra, porque nunca devemos parar de nos assombrar com esse tipo de coisa, é que o “para gente preparada” nada mais é do que aquele providencial verniz que se quer dar à luta de classes em favor dos exploradores. Uma espécie de qualificação maior que separa os “eleitos” da pequena burguesia que Eliane Catanhêde certa vez eternizou como sendo a “massa cheirosa”.

Um verdadeiro museu de grandes novidades, como diria o poeta, onde a principal atração é um Ciro Gomes despido dos pés à cabeça e que cuja imagem nada mais reflete do que a terrível época dos navios negreiros.

Participe de nosso grupo no WhatsApp clicando neste link

Entre em nosso canal no Telegram, clique neste link