Atentado na Argentina: Embaixada do Brasil cancela comemoração dos 200 anos da Independência

A nacionalidade do autor da tentativa de assassinato, a comoção nacional e o feriado decretado pelo presidente Alberto Fernández para dar vez às manifestações solidárias a Cristina Kirchner levaram a embaixada do Brasil na Argentina a cancelar a comemoração do bicentenário da Independência do Brasil.

Atualizado em 2 de setembro de 2022 às 19:07
Atentado contra Cristina Kirchner
Foto: Reprodução/Montagem

Publicado originalmente na RFi

A política investiga se o brasileiro autor da tentativa de assassinato tinha cúmplices ou se é “um lobo solitário”. Fernando André Sapag Montiel, de 35 anos, filho de mãe argentina, radicado em Buenos Aires desde a infância, apontou uma pistola a poucos centímetros do rosto de Cristina Kirchner. Fernando chegou a puxar o gatilho da arma carregada, mas o tiro falhou.

A Justiça procura determinar se Fernando agiu sozinho ou se tinha conexões na Argentina ou no exterior. A polícia revistou a quitinete de 15 metros quadrados que Fernando aluga há oito meses nos fundos do terreno de uma casa. Foram encontrados 100 projéteis em duas caixas, lixo espalhado e elementos de fetichismo sexual como lingerie feminina, vibradores e um chicote de couro. O calibre da munição não coincide com a pistola usada para a tentativa de crime.

Símbolos nazistas

Sergio Paroldi, dono da casa, conta que o brasileiro parecia uma pessoa “normal e educada” e que tinha três carros com os quais trabalhava como motorista de aplicativos. Dois carros eram alugados a terceiros com a mesma finalidade.

Três tatuagens pelo corpo de Fernando Montiel remetem a signos neonazistas, como o “sol preto” no cotovelo direito, em referência a uma ramificação do nazismo alemão de Adolf Hitler.

Fernando Andrés Sabag Montiel com a tatuagem do Sol Negro. Foto/Reprodução

“Se Fernando apontou contra Cristina, poderia ter apontado contra mim também. Tenho medo agora que venham amigos neonazistas dele atrás de mim por ter chamado a polícia”, afirmou Paroldi.

Mario, um amigo de Fernando desde a adolescência, revelou que há 10 meses o agressor contou que compraria uma arma. “Eu acredito que a intenção original dele era matá-la, sim. Mas, infelizmente, ele não ensaiou antes”, disse Mario à imprensa argentina, provocando mais indignação.

“Ele sempre dizia que tinha armas, mas como tinha fama de mitomaníaco, deixávamos que ele falasse”, acrescentou.

Manifestações contra o ódio

Desde a manhã, milhares de manifestantes em toda a Argentina marcham em solidariedade a Cristina Kirchner e contra o discurso de ódio. Por todo o país, integrantes de organizações políticas, sociais e sindicais, aliadas do governo, protestam sob o lema da “solidariedade a Cristina Kirchner” e “a favor da democracia”.

Os manifestantes entoam lemas que apontam contra a imprensa, a oposição e a Justiça, que julga a ex-presidente por corrupção. Para o governo, conforme nota divulgada nesta tarde, esses três grupos perseguem a atual vice-presidente e ex-presidente, destilando um discurso de ódio que resulta em tentativas de agressões como a perpetrada pelo brasileiro Fernando Montiel, na noite de quinta-feira (1).

O presidente Alberto Fernández presidiu, nesta sexta-feira, uma reunião ministerial para “analisar o estado de comoção social derivado da tentativa de assassinato à Cristina Kirchner”, informou o governo, em uma nota.

“O gabinete ministerial participa da mobilização cidadã na Praça de Maio e convida todos os argentinos a se expressarem com bandeiras argentinas em defesa da democracia e em solidariedade com a vice-presidente”, indica a Casa Rosada. O texto acrescenta que o presidente “convocou os setores sindicais, sociais, empresariais e religiosos a construírem um amplo consenso contra os discursos de ódio e de violência”, afirma a nota oficial.

Com batuque, bandeiras e palavras de ordem, os manifestantes atendem ao pedido do governo, que decretou feriado nacional para facilitar a mobilização social, acatada por todas as repartições públicas do país. Até as partidas de futebol foram canceladas. A Associação do Futebol Argentino (AFA) condenou o frustrado atentado contra Cristina Kirchner.

As principais entidades católicas, judaicas e islâmicas emitiram em conjunto uma nota de repúdio ao atentado e expressaram “dor e preocupação”. Organizações empresariais e a oposição política também repudiaram a tentativa de assassinato, mas não se pronunciaram a favor das manifestações políticas.

Milhares de pessoas tomaram a Praça de Maio, em Buenos Aires, para prestar solidariedade a Cristina Kirchner e “contra o ódio”. AP – Rodrigo Abd

Reações do papa e dos EUA

Próximo de Cristina Kirchner, o papa Francisco enviou um telegrama de solidariedade e depois telefonou para a vice-presidente. O pontífice disse que reza para que “na querida Argentina prevaleçam sempre a harmonia social o respeito pelos valores democráticos contra todo tipo de violência e de agressão”.

Os Estados Unidos condenaram “energicamente” o atentado. “Estamos com o governo e com o povo argentino em rejeição à violência e ao ódio”, expressou o secretário de Estado, Antony Blinken, através das redes sociais.

 

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