Por Glauco Faria
Em seu discurso após o desfile de 7 de Setembro, o presidente e candidato à reeleição Jair Bolsonaro (PL) fez um discurso no qual repetiu clichês apelando à masculinidade e a um padrão estereotipado do papel da mulher e do conceito de “família”, acenando em especial para a base do seu eleitorado.
Após falar que a primeira-dama, Michelle Bolsonaro, “muitas vezes está é na minha frente” e não ao seu lado, recomendou aos homens solteiros que se casassem. “E eu tenho falado para os homens solteiros, para os solteiros que estão cansados de ser infelizes. Procure uma mulher, uma princesa, se casem com ela, para serem mais felizes ainda.” Em seguida, beijou a primeira-dama, para puxar o coro de “imbrochável, imbrochável, imbrochável” junto com parte da plateia.
“Imbrochável é um significante fundamental do Bolsonaro desde sua campanha e ele se refere a esse apelo pela masculinidade que compõe boa parte dos apoiadores e cria um conjunto de identificações com aquelas pessoas que sentem que a sua masculinidade tradicional heteronormativa está ameaçada com as transformações recentes. Com as mudanças que a gente tem no Brasil, muitas pessoas sentem que perderam o lugar e que as coisas estão ‘desorganizadas’, que estão subvertendo hierarquias tradicionais”, avalia o psicanalista e professor da Universidade de São Paulo (USP), Christian Dunker.
O adjetivo já usado por Bolsonaro em outras ocasiões, portanto, não é colocado à toa em suas falas. “A ideia do imbrochável é aquela que suscita a intromissão no discurso público de um aspecto da vida privada, que é aquele que está permanentemente ereto, que nunca fraqueja, que está oferecendo assim, tal como uma arma cheia de balas, sempre prontas para serem empregadas, a sua masculinidade como forma de garantir proteção para aqueles que estão se sentindo inseguros”, explica Dunker.
“Então, em uma retórica mais ou menos conhecida, você primeiro incita um tema, um lado da fantasia, e para isso usa o discurso libidinal, libidinoso, e em seguida oferece a proteção, a identificação com o líder. Oferece assim o pai protetor”, aponta. “Essa é uma síntese do bolsonarismo, a masculinidade frágil, um apelo a uma segurança genérica, a criação de inimigos que são vistos como fracos, como os brocháveis, não suficientemente violentos. Os brocháveis são os outros.”
Repercussão
A fala de Bolsonaro, completamente fora de qualquer script convencional, gerou reações de políticos, jornalistas e comentaristas nas redes sociais. As candidatas à Presidência Simone Tebet e Soraya Thronicke repudiaram as declarações do presidente.
Vergonhoso e patético! No dia da Independência do Brasil, o Presidente mostra todo seu desprezo pelas mulheres e sua masculinidade tóxica e infantil. Como brasileira e mulher, me sinto envergonhada e desrespeitada. +
— Simone Tebet (@simonetebetbr) September 7, 2022
Divorciado do respeito à data, em pleno 7 de Setembro, o presidente insiste em propagar q é imbrochável – informação que, sinceramente, não interessa ao povo brasileiro. O que o Brasil precisa, mesmo, é de um presidente incorruptível. Bolsonaro prima pela desqualificação.
— SorayaThronicke (@SorayaThronicke) September 7, 2022
A deputada federal Talíria Petrone (Psol) lembrou o escândalo da compra de Viagra e próteses penianas pelo Exército.
Bolsonaro poderia se preocupar com a fome tanto quanto pauta a disfunção erétil. O genocida puxou o coro de "imbroxável" em sua mobilização. Logo ele, que destinou milhões para a compra de viagra e próteses penianas para as forças armadas… ??
VERGONHOSO DEMAIS! +
— Talíria Petrone (@taliriapetrone) September 7, 2022
Confira outras manifestações:
Como os livros de história vão narrar Bolsonaro hoje? Vão escrever nos livros didáticos “imbrochável”?
— Debora Diniz ? (@Debora_D_Diniz) September 7, 2022
O Bolsonaro tem uma fixação tão grande com esse negócio de “imbrochável” que eu já estou começando a pensar com algum grau de seriedade na hipótese de que ele não respondeu os 103 e-mails da Pfizer falando de vacina na pandemia porque ele achou que era Viagra.
— Leonardo Rossatto (@nadanovonofront) September 7, 2022
"Imbrochável" por conta dos 33,5 milhões de reais em compra de viagra pelas forças armadas
— Jonathan Vicente (@jonathanvicent) September 7, 2022
No dia em que o “imbrochável” transforma o bicentenário da independência numa ode à vergonha nacional, nunca é demais relembrar Simone de Beauvoir: “Ninguém é mais arrogante, violento, agressivo e desdenhoso contra as mulheres, que um homem inseguro de sua própria virilidade”
— Maria Cristina Fernandes (@mcfernandes) September 7, 2022
O presidente da república puxou o grito de "imbrochável" na data em que se marcam 200 anos da independência. Quero ver explicar isso para as próximas gerações.
— Pedro Borges (@pedroborgesf) September 7, 2022
Mano vivemos pra ver um Presidente da República puxando um coro pra si mesmo de “imbrochável”.
Retrato de uma masculinidade mais frágil que um cristal.
Surreal esse Brasil.
— Sheila de Carvalho (@she_carvalho) September 7, 2022