Por Carlos Fernandes
A recém-divulgada pesquisa Datafolha seria apenas mais do mesmo se não fosse pelas oscilações positiva e negativa de Jair Bolsonaro e Ciro Gomes, respectivamente, no quadro geral das intenções de votos.
Ainda que não se possa afirmar com toda a certeza que os 2% perdidos por Ciro sejam nominalmente os 2% ganhos por Bolsonaro, é mais do que lícito supor que a violência e ódio com que o ora pedetista tem conduzido as suas críticas notadamente voltadas para Lula tenham feito com que o seu entorno mais obcecado comece a migrar de vez, já imediatamente, para as hostes bolsonaristas.
Para quem acompanha a política, esse movimento não surpreende absolutamente ninguém, dado o nível de rancor e animosidade com que Ciro vem disseminando, em irresponsável parceria com Bolsonaro, junto à disputa eleitoral de 2022.
Fora todos os inúmeros problemas óbvios para a democracia brasileira contidos nessa estratégia destrambelhada, a coisa toda tende a se virar contra ele próprio, Ciro, tendo em vista que se por um lado o segundo colocado nas pesquisas se afasta cada vez mais, o quarto lugar, mesmo neste momento jogando parada, já enxerga no visual o seu oponente e se prepara para a hora da ultrapassagem.
Simone Tebet, alavancada por uma bela estreia no debate da Band, viu seus parcos 1% de intenções de votos se transformarem em consistentes 5%, já em empate técnico com Ciro Gomes. Caso a ala mais racional que ainda vota no ora pedetista resolva exercer o seu direito ao voto útil em Lula para desbancar o inútil já no primeiro turno, o resultado dessa operação nada mais será do que uma vergonhosa quarta colocação, com menos da metade dos votos obtidos em 2018, do agora quatro vezes derrotado candidato à presidência.
Para Tebet, uma então ilustre desconhecida, chegar em terceiro lugar numa disputa presidencial acirradíssima e com gigantesco nível de polarização é, de saída, uma ótima performance. Sobretudo se levarmos em conta que a sua intenção não é nem nunca foi ganhar a corrida, mas tão somente se mostrar como opção viável para 2026.
E é justamente nesses termos que uma oportunidade única se apresenta para Simone Tebet.
Tudo muito bem medido e pesado, os votos que hoje Tebet traz consigo é tudo o que Lula precisa para fechar a fatura já na primeira volta das eleições. Ser a responsável direta por essa mais do que possível transferência de votos – em clara oposição à palhaçada proporcionada por Ciro em 2018 e reeditada com requintes de crueldade em 2022 – seria um fator de extrema visibilidade para uma mulher que quer se mostrar como uma via de “pacificação” do país, coisa somente pensável com a derrota, não só eleitoral, mas política, do atual presidente.
Da mesma forma que ninguém esqueceu o Tour de France de Ciro Gomes em 2018, Tebet seria lembrada por um grandioso gesto de desprendimento e humildade se abdicasse de sua candidatura nessa reta final da campanha e apoiasse Lula, evidenciando definitivamente o seu nome como o fator decisivo para o melhor de todos os desfechos nesta disputa entre a civilização e a barbárie.
Propaganda maior em seu benefício próprio não poderia existir. A deusa Fortuna acena para Simone Tebet. Caso retribua, está dada uma liderança forte para a disputa de 2026.