O bolsonarista que humilhou uma mulher humilde negando-lhe uma marmita por ela dizer que votaria em Lula não está apenas cometendo crime eleitoral.
É muito pior que isso.
Ele é o retrato da perversidade do falso cristão, do cidadão de bem, dessa malta que enche as ruas e as igrejas e depois mata alguém de fome ou de tiro.
É uma das cenas mais abomináveis num país que se tornou refém de uma minoria hedionda.
Certamente aquela não é sua única vítima. Quantas outras pessoas o homem achacou dessa maneira? Quem paga essas marmitas?
Até agora não se sabe sua identidade. O vídeo foi postado nas redes pelos Jornalistas Livres.
Houve tempo em que o canalha se escondia. Hoje ele tem orgulho de aparecer e se filmar porque o imbrochável autoriza e estimula.
No comício do 7 de setembro, Bolsonaro falou em “extirpar” seus adversários. Já declarou que “esquerdistas não merecem ser tratados como pessoas normais” e defendeu que se mandasse os inimigos para a “ponta da praia”, gíria para desova de cadáveres na ditadura.
Hitler desumanizou judeus para poder exterminá-los.
O sujeito que faz isso com uma senhora está exercendo sua perversão em nome do líder fascista porque Bolsonaro é a lei e tudo é permitido. Essa barbárie ocorreu debaixo dos nossos narizes ao longo de quatro anos e está devidamente institucionalizada.
O escritor francês George Steiner, morto em 2020, disse uma vez que o nazismo “não surgiu no deserto de Gobi ou na floresta tropical da Amazónia”.
“Originou-se no interior e no cerne da civilização europeia. Os gritos dos assassinados ecoaram a pouca distância das universidades; o sadismo aconteceu a uma quadra dos teatros e dos museus”.
É preciso reagir. A questão é saber se não é tarde demais.