A agenda de Bolsonaro em Londres e na ONU foi mais um desastre na historia da diplomacia brasileira. O comportamento do mandatário em meio ao funeral da rainha Elizabeth II parece ter se tornado o emblema de seu mandato na cena internacional. Uma crônica difundida hoje pela raádio portuguesa TSF demole o presidente, ridiculariza-o e sugere aos eleitores brasileiros uma mudança diante do absurdo.
“Vergonha para o Brasil, até em funeral”, diz a crônica semanal de Daniel Oliveira. “Há aquele membro de todas as famílias que ninguém convida para os jantares a não ser no Natal porque tem de ser”, ironiza.
“Como está em campanha, Bolsonaro achou que aquela era uma ótima oportunidade de fotografia. Não foi o único, mas para estas coisas é preciso alguma diplomacia. O homem que já desmarcou um almoço com o presidente português e que depois o enfiou num comício à boleia do bicentenário da independência, não faz ideia do que isso seja. Mesmo algum decoro, alguma boa educação”.
“Bolsonaro passeou-se com um ar de quem acabou de se saber herdeiro de uma tia rica. Não se tem de fingir que se está triste quando nem se conhece a defunta mas é possível manter a compostura”.
“Bolsonaro gravou vídeos de propaganda em bombas de gasolina inglesas. A primeira-dama fez-se fotografar com o seu modelito de funeral, ao lado de um maquiador que fazia parte do séquito presidencial”, aponta.
“A família Bolsonaro gosta de fingir que é do povo mas a sua tribo chama de cachaceiro a Lula porque despreza quem realmente vem debaixo”, critica.
“O mais absurdo foi quando, em plena visita de Estado, e da janela da residência oficial do embaixador do Brasil, o presidente decidiu fazer um comício para 200 apoiantes convocados para a ocasião, grupo que na rua obrigou a polícia a proteger os ambientalistas ingleses que protestavam contra a destruição da Amazônia”.
“Os bolsonaristas insultaram e fizeram gestos grosseiros contra quem os filmava”, relata.
“De um lugar do Estado brasileiro e não qualquer partido é representado, Bolsonaro disse que as pesquisas estavam erradas e, como Trump, voltou a lançar suspeitas sobre o sistema de votação”, afirma.
O jornalista português também comentou a ida do presidente brasileiro à Organização das Nações Unidas, antes do discurso. “Bolsonaro se prepara para repetir a graça na Assembleia Geral da ONU, mas os diplomatas já mostraram diplomática preocupação. Mas, ao menos em Nova Iorque não vai atravessar o velório de uma senhora idosa atirando confetes”, comenta.
“Os brasileiros terão muitas razões para se aliviarem com o fim do mandato deste absurdo presidente: da trágica gestão da pandemia, ao aumento da fome, do insuportável ambiente tóxico que alimentou no debate político a seu total despreparo”, sugere.
“O Brasil, centro cultural da língua portuguesa, uma das mais faladas do mundo, potência econômica e política, não se pode passear como se fosse uma pequena e patética república das bananas. Não merece passar por mais vergonhas”, considera.
“Merece que o seu presidente seja recebido como eram os antecessores de Bolsonaro, com respeito por tudo o que representa. Dia 2 de outubro, ou 30 ou mais tardar, os brasileiros têm que reconquistar muita coisa: a normalidade democrática, a sanidade no debate político, o mínimo de competência e preocupação com a vida do povo, o respeito pela liberdade de criação, de expressão e de imprensa, mas, no meio de uma agenda tão pesada, reconquistar o respeito do mundo pelo Brasil não é o mais importante”.
“Mas há limites na forma como este homem transforma a representação de um país extraordinário numa vergonha alheia global”.