Por Moisés Mendes
Desde o golpe de agosto de 2016 contra Dilma Rousseff, a capacidade de reação da democracia esteve sempre aquém das agressões dos que tentam destruí-la.
Não há como esperar que a resistência institucional parta do Congresso, por onde tudo deveria começar num ambiente de normalidade, porque o Congresso é golpista.
Mas sempre se esperou um pouco mais de bravura das instituições, em especial do Supremo e do conjunto do chamado sistema de Justiça.
Esperávamos mais de nós mesmos, disso que ainda chamamos de sociedade civil, mas não conseguimos nem sair às ruas como acontecia nos anos 80 e 90.
Até tentamos, mas com meia pressão, em pelo menos cinco manifestações que foram apenas médias ou grandes, sem nenhum indício de que poderiam ser históricas.
Não tivemos concentrações e caminhadas que pudessem ser consideradas alentadoras. Não houve, em seis anos desde o golpe, nada nas ruas que não tenha sido pouco mais do que apenas protocolar.
Faltou imposição contra o golpe e contra o avanço do bolsonarismo. As respostas às quadrilhas da pandemia e aos delitos da família e do gabinete do ódio ficaram aquém das crueldades e dos crimes cometidos.
O Brasil se deu conta, em meio ao avanço do fascismo, que há um déficit de inquietação de jovens nas escolas e nas ruas, como nunca antes. E que a universidade perdeu vigor como núcleo mobilizador de forças.
Sem a vitalidade dos estudantes, sem a trincheira da universidade, com sindicatos fragilizados e com um Congresso tomado pelas facções do orçamento secreto e por fundamentalistas, não havia como esperar mais também das instituições.
E assim chegamos agora ao momento da pergunta incômoda, muitas vezes escamoteada: o Brasil saberá reagir ao caos que Bolsonaro pretende provocar?
Os que entregam tudo ao destemor de Alexandre de Moraes, como se dependêssemos de um Batman, oferecem lastro político para que Supremo e TSE enfrentem a ameaça de golpe?
A capacidade de reação da sociedade enfrenta teste decisivo nessa e nas próximas semanas, quando todos os planos da extrema direita serão executados.
Sabe-se que estão sendo planejadas ações violentas no dia da eleição. Informam que o bolsonarismo vem mobilizando ativistas, para que se apoderem, como voluntários dos TREs, das mesas das seções eleitorais.
Há suspeitas do planejamento de blackouts. Não haverá ônibus para todos, com a sabotagem do transporte de eleitores pelas prefeituras de direita, e não necessariamente bolsonaristas.
Está confirmada e reafirmada a confusão da apuração paralela. E não foram contidas as estruturas de produção e disseminação de fake news por tios do zap e por profissionais.
Há ainda o inimaginável, que só o fascismo poderá planejar. O acabamento do cenário, nos últimos dias, prepara o país para algo que os melhores adivinhadores não conseguem antecipar.
O imponderável é o nome de tudo o que pode acontecer e que será depois abordado como um conjunto de ações criminosas que o país não concebia como possível.
O brasileiro e as instituições terão de provar que são capazes de reagir para conter a sequência de violências, não só as avulsas e localizadas, mas as ações golpistas que se espalharão com planejamento e método.
Se não forem capazes, a democracia pode se recolher a um canto e esperar o socorro das próximas gerações.