Em carta inédita enviada à Comissão Europeia, 50 deputados que integram o bloco pediram a Europa que não aceite ameaças de Jair Bolsonaro (PL) contra o processo eleitoral no Brasil. Eles querem que as eleições no país sejam monitoradas, mesmo que de forma remota, segundo o colunista do UOL, Jamil Chade.
No documento, os parlamentares também sugerem que a Comissão Europeia adote sanções comerciais em caso uma ruptura democrática imposta pelo atual presidente.
“Dadas as ameaças inéditas às eleições gerais do Brasil, pedimos que a Comissão Europeia tome medidas adicionais para deixar inequivocamente claro ao Presidente Bolsonaro e sua administração que a Constituição do Brasil deve ser respeitada e que as tentativas de subverter as regras da democracia são inaceitáveis”, afirmam os deputados
“É também crucial dissuadir a liderança militar brasileira de qualquer tentação de apoiar um golpe de Estado”, diz a carta.
“A UE deve declarar que usará diferentes alavancas, incluindo o comércio, para defender a democracia e os direitos humanos no Brasil”, afirmaram.
O documento segue o mesmo modelo de uma carta feita há poucas semanas por congressistas norte-americanos ao presidente Joe Biden. O conteúdo é praticamente o mesmo, com alertas sobre as ameaças à democracia representadas por Bolsonaro.
“Em antecipação das eleições gerais brasileiras de 2 de outubro de 2022, mais de 50 membros do Parlamento Europeu escreveram uma carta ao Presidente da Comissão Ursula von der Leyen e ao Alto Representante da UE para Assuntos Exteriores e Política de Segurança, Josep Borrell, instando-os a monitorar as eleições no Brasil e apoiar as instituições democráticas no Brasil”, afirma um comunicado do Parlamento Europeu.
“O sistema de votação eletrônica brasileiro, em vigor desde 1996 e considerado seguro e confiável, tem sido alvo de repetidos e infundados ataques do presidente Jair Bolsonaro. O desaparecimento da democracia teria implicações internacionais”.
Na carta, os 50 deputados expressam “profunda preocupação com os ataques sistemáticos às instituições democráticas no Brasil”. O texto lembra a reunião entre Bolsonaro e embaixadores estrangeiros, no qual o presidente mentiu sobre o sistema eleitoral.
“Em 18 de julho de 2022, em reunião com o corpo diplomático, o Presidente Bolsonaro declarou que “o sistema (eletrônico) é completamente vulnerável”, sem apresentar nenhuma evidência de fraude”, afirmam os parlamentares.
“Esta não foi a primeira vez que ele tentou desacreditar as instituições eleitorais brasileiras. Em junho, ele prometeu publicamente “ir à guerra” se necessário para evitar uma eleição “roubada”. E em 19 de setembro, menos de um mês antes da votação, ele declarou que a eleição seria manipulada se ele não ganhasse com 60% dos votos no primeiro turno”.
“Tememos que ele possa impedir uma transferência pacífica de poder se perder”, alertam.
Eles ainda destacaram a violência política no Brasil. “Ameaças, intimidação e violência política, incluindo ameaças de morte contra candidatos, continuam a aumentar on-line e off-line. Desde julho, dois apoiadores do PT foram assassinados por bolsonaristas, e foram feitas ameaças de morte contra o candidato socialista Guilherme Boulos”, apontam.
“Estes atos criam terror entre a população e dissuadem potenciais candidatos de concorrer a cargos. Especialistas da ONU apontam que estas ameaças visam particularmente mulheres, povos indígenas, afro-descendentes e pessoas LGBTI e limitam suas oportunidades de representação nas decisões que as afetam, perpetuando o devastador ciclo de exclusão”.