Eduardo Leite/PSDB decidiu ficar em cima do muro na disputa entre Lula e Bolsonaro. Ele optou pelo que chama de “neutralidade”, se é que seja uma posição ética e politicamente admissível diante da encruzilhada do país, em que a democracia esperneia para não ser esmagada pelo fascismo e a vida humana teima em sobreviver à barbárie.
Ao anunciar a “neutralidade”, Leite se explicou com um descalibrado critério de geografia política: “Vou continuar no lado onde sempre estive, no centro” [sic], sustentou.
Mas, na eleição de 2018, o tucano apoiou Jair Bolsonaro – localizado à extrema-direita do que ele considera o “centro” político em que “sempre esteve”. Na ocasião, Leite justificou: “tenho certeza que faz mais mal ao país uma eleição do Partido dos Trabalhadores” [10/10/2018].
Eduardo Leite é um político jovem, mas com muita malandragem, ambição, domínio de marketing e, acima de tudo, cálculo político.
A decisão de assumir publicamente sua orientação sexual é uma evidência significativa desses seus atributos. Embora esta seja uma questão privada, de foro íntimo, que, por isso, não deveria ser escrutinada no debate público, Leite agiu calculadamente, para capitalizar politicamente sua imagem.
O “evento” teve ares cinematográficos, transmitido ao vivo no programa do Bial na TV Globo e sincronizado com a corrida eleitoral.
A “neutralidade” de Eduardo Leite fica ainda mais contestada devido à disposição do PT em apoiá-lo para derrotar Bolsonaro e o candidato fasci-bolsonarista ao governo estadual.
O candidato tucano é um rapaz que muito calcula, como já referido. O retrospecto recente da trajetória dele evidencia, contudo, que o cálculo político nem sempre é sinônimo de acerto estratégico. Pelo menos é o que se observou com a renúncia dele ao governo do RS para se dedicar à desastrosa incursão nacional na disputa tucana pela candidatura presidencial.
Desta vez, Eduardo Leite calculou que se apoiasse Lula, poderia perder cerca de 4,5% dos votos reacionários e conservadores obtidos por Bolsonaro e que votaram nele e no presidente no primeiro turno – 146.026 votos dos 3,245 milhões do Bolsonaro no RS.
E, de acordo com sua própria matemática, Leite estimou ter recebido 13,48% dos votos dados a Lula, o que corresponde a 378.339 votos dos 2,806 milhões de votos do Lula no RS no primeiro turno.
Um cálculo simples mostra que se Leite tivesse se aliado ao PT para derrotar Bolsonaro e seu candidato ao governo do Estado, poderia se beneficiar da maior parcela dos 1,7 milhões de votos dados ao candidato petista Edegar Pretto, além de preservar o contingente de eleitores do Lula que poderiam repetir o voto nele no segundo turno.
Do ponto de vista lógico-racional, portanto, a decisão de Eduardo Leite de não construir o entendimento com o PT para derrotar o fascismo mostra-se um equívoco primário, pois praticamente sacramenta sua derrota em 30 de outubro.
O cálculo político que Leite fez é biográfico, não matemático. Ele avalia que não conseguirá se reeleger, mesmo com a ajuda do PT. E nesta circunstância, para preservar intacta a biografia de antipetista-raiz, ele prefere ficar com as “mãos limpas” e “não manchar” sua trajetória apoiando Lula.
Neste momento histórico dramático e trágico do Brasil, tucanos históricos se agigantam ao se juntarem a Lula no movimento em defesa da democracia e da vida contra o fascismo e a barbárie. Eduardo Leite, entretanto, escolhe o outro lado da história, que não é o da humanidade e da civilização.
Leite é a expressão exacerbada do antipetismo, este sentimento odioso de estigmatização dos adversários políticos que são transformados em inimigos a serem exterminados – fenômeno autopsiado pela historiadora Hannah Arendt nos seus estudos sobre a origem do totalitarismo, do fascismo e do nazismo.
O antipetismo é um instrumento e uma ideologia de poder. O antipetismo está na base do processo profundo e profundamente entranhado de fascistização das instituições e da sociedade brasileira.
Reforçar o antipetismo, como fez Eduardo Leite, portanto, é escolher um lugar muito distante da falsa “neutralidade”, pois significa estar ao lado do fascismo e ser adepto das práticas deploráveis de ódio, intolerância e violência política.
Eduardo Leite é um político jovem, mas seu futuro já está marcado com esta mancha indelével. Ele se transformou num político raquítico, sem transcendência, da estatura do rebotalho que jaz no caixão do “novo” PSDB.
Publicado originalmente no blog do Jeferson Miola.