Não podemos ler as pesquisas de maneira irracional. Por Rudá Ricci

Atualizado em 20 de outubro de 2022 às 13:39
Datafolha: Lula tem 49% no 2º turno, e Bolsonaro, 45%

Vamos aos fatos. Lula permanece na liderança e com margem idêntica à verificada na sua vitória no primeiro turno. Aliás, as mudanças nacionais dos índices foram decimais. Há forte movimentação nos Estados, mas nacionalmente continua o mesmo desde dia 2.

Há duas questões importantes a serem consideradas. A primeira é que há movimentação nos Estados e a campanha de Bolsonaro joga tudo em SP e MG. Acontece que há alteração pró-Lula em outras regiões do país. Na prática, tudo ficou dentro da margem de erro.

Aqui entra a segunda questão: margem de erro. Tem “especialista” que decide ler a margem de erro sempre para apenas um lado. Percebam: Lula venceu Bolsonaro no primeiro turno por 5 pontos percentuais. Ora, se fosse uma pesquisa por amostragem, seria empate técnico.

Até aqui, ninguém sério e experiente em pesquisa pode afirmar com certeza que a diferença de Lula do primeiro turno foi diminuída. Mas, é possível dizer que há uma leve tendência de recuperação de Bolsonaro. Até aqui, esta tendência vira o jogo? Não.

Agora, uma última observação: o impacto da pesquisa. Aí, a história fica mais complicada. O resultado do Datafolha de ontem gerou ataque histérico no campo lulista. Não houve comemoração do lado de lá na mesma proporção. O que estaria ocorrendo? Acomodação.

Há muitas iniciativas importantes, de rua, ocorrendo no campo pró-Lula, mas quase sempre são iniciativas sem coordenação geral. Um exemplo é o evento de mães com Lula que ocorrerá no domingo em Belo Horizonte. Iniciativa autônoma.

A campanha de Lula não estimulou a velha garra petista no primeiro turno. No segundo turno, botou fogo com as intervenções ofensivas e maliciosas de Janones, que não é petista. As campanhas do PT sempre tiveram uma coordenação para as frentes de massa.

Mas, há um problema mais grave: o estresse pós-traumático de quem não entendeu ainda que a extrema-direita se organizou no Brasil – ela sempre existiu por essas bandas – e vem com tudo. Para enfrentá-la, somente com um exército muito determinado e ofensivo.

As eleições vencidas pela esquerda recentemente na América Latina não ocorreram por larga diferença. Ao contrário. Na Colômbia, a diferença foi de menos de 3%. Mas, em todas, houve forte mobilização de rua.

O que parece que não está claro é que o bolsonarismo é o maior movimento de lavagem cerebral em massa desde o nazismo. Trata-se de ação comunicativa irracional e que almeja a excitação permanente, usando disparadores psíquicos para a multidão. Confere uma sensação de força.

Na Alemanha nazista, o rádio foi usado da mesma maneira que hoje o bolsonarismo usa as redes sociais. Não por outro motivo, em 3 de julho de 1933, o Ministério da Propaganda do Reich submeteu todas as áreas da imprensa falada à Câmara de Radiodifusão do governo nazista.

Josef Goebbels percebia no rádio o meio ideal para divulgação da plataforma nazista, por onde se disseminava a noção de Volksgemeinschaft, ou seja, Comunidade Nacional alemã.

Enfim, parece que ainda não ficou claro que esta eleição trava uma guerra entre a democracia e o fascismo, entre uma vida social inclusiva e a barbárie. É assim que temos que ler as pesquisas até a eleição do dia 30. Não podemos ler de maneira irracional.