Por Helena Chagas
Jair Bolsonaro e seus aliados sabem que a derrota se avizinha e voltam a ensaiar o discurso perigoso de quem quer tentar melar o jogo. A cena do ministro das Comunicações, Fábio Faria, na porta do Alvorada, na noite desta segunda-feira, não deixa margem a enganos: o QG de Bolsonaro está armando uma denúncia fake em torno de hipotéticas falhas na veiculação das inserções eleitorais do presidente em pequenas rádios do Nordeste para alegar fraude na campanha.
Não vai conseguir, porque o presidente do TSE, Alexandre de Moraes, correu para informa-se sobre o assunto com representantes das emissoras e viu que a história não tem pé nem cabeça. Com base nisso, inverteu o jogo, pedindo provas – que Faria não tem – e ameaçando abrir inquérito contra a campanha de Bolsonaro – aí, sim, por fraude.
Mas a manobra alertou autoridades eleitorais e integrantes da campanha do PT: até domingo, vem muito mais coisa por aí. Alguns, apontam, aliás, o ataque bélico de Roberto Jefferson contra a PF no domingo já como o primeiro episódio de uma sequência golpista.
Não deu certo, mas o TSE, ao decretar sua nova prisão, tinha informações de que Bob articulava uma manifestação bolsonarista de força para esta semana, usando seu arsenal para intimidar e assustar. A presença, em seu bunker, do padre ajudante de debate Kelmon e do deputado indultado Daniel Silveira – que tentaram mobilizar bolsonaristas para um ato de defesa do lado de fora – confirma a tese de que o petebista não está jogando sozinho.
Foi abandonado por Bolsonaro quando começou a entrar água no barco, mas tudo indica que havia num plano para tumultuar a eleição, assim como esta é a intenção da “denúncia” de Faria e de outros movimentos que provavelmente vão acontecer nos próximos dias.
O que mostra isso tudo? Mostra que, se a possibilidade de golpe com o apoio de militares e instituições da sociedade parece descartada, a hipótese de que, na derrota, Bolsonaro insista em questionar o resultado das urnas e criar tumulto é bastante provável.
É para isso, portanto, que Lula e sua campanha precisam se preparar. Antes de tudo, articulando o reconhecimento imediato da vitória por parte dos chefes dos poderes Judiciário e Legislativo, de representações da sociedade e de chefes de Estado de países amigos.
Em poucas horas, a vitória de Lula, se ocorrer, terá que ser fato consumado. A ponto de obrigar governadores de estado, mesmo os hoje bolsonaristas, a usar as forças policiais para conter eventuais tumultos e distúrbios nas ruas. Apesar de os chefes estaduais em São Paulo, Minas e Rio estarem apoiando o presidente da República, as apostas nos meios políticos são de que, fechadas as urnas, vão correr para Lula – sobretudo Romeu Zema e Claudio Castro, que têm mais quatro anos de governo pela frente.
Texto publicado originalmente em Jornalistas pela Democracia