Construtora que tem Luciano Hang como sócio pressiona funcionários a votarem em Bolsonaro

Atualizado em 29 de outubro de 2022 às 22:32
O empresário Luciano Hang acena para bolsonaristas durante motociata pró-Bolsonaro em São Paulo
Foto: Reprodução/Eduardo Knapp/Folhapress

Uma gigante da construção civil, que possui diversos empreendimentos em Balneário Camboriú, no litoral norte de Santa Catarina, promoveu uma reunião, na quinta-feira (27), com o objetivo de convencer seus trabalhadores a votarem no candidato Jair Bolsonaro (PL).

A reunião, que teve caráter festivo, contou com a presença de um deputado bolsonarista eleito. A empresa tem como sócio o bilionário Luciano Hang, dono das lojas Havan. O episódio pode configurar assédio eleitoral.

A empresa, que tem cerca de 300 empregados, convocou os funcionários de todas as obras de Balneário Camboriú para um churrasco que, de acordo com uma fonte do Sindicato dos Trabalhadores nas Indústrias da Construção Civil da região, “não era comemoração nenhuma, era para pedir voto (para Bolsonaro) mesmo”.

A fonte relatou ao DCM que ao término do discurso do deputado, um trabalhador pediu a palavra e argumentou contra os pontos trazidos por ele, tendo sido amplamente aplaudido pelos colegas.

Como o tiro saiu pela culatra, o sindicato preferiu não abrir uma denúncia contra a empresa pelo episódio. “Não se transformou em um assédio forte porque o trabalhador desmontou o esquema na hora, transformou a reunião para a posição contrária a que os patrões pretendiam”, diz. Em seguida, o deputado disse que estava atrasado para outro compromisso e se retirou.

Luciano Hang é sócio da construtora no projeto de um prédio que pode se tornar o maior edifício exclusivamente residencial do mundo. Ele chegou a dizer que a continuidade da obra dependeria do resultado das eleições, mas foi prontamente desmentido pela construtora.

“Já avisei ao meu sócio. Se a esquerda voltar ao poder, não só esse como outros projetos também vão parar. Ninguém mais vai investir”, afirmou Hang. No entanto, a empresa informou, em nota, que “independentemente do resultado das eleições irá manter seu planejamento estratégico em relação aos empreendimentos que serão lançados nos próximos 12 meses”.

A colunista Dagmara Spautz, do jornal NSC Total, noticiou, no dia 11 de outubro, áudios de pessoas vinculadas a outras empresas da construção civil de Santa Catarina, no sentido de pressionar trabalhadores a votar no presidente Jair Bolsonaro (PL). Um áudio a que ela teve acesso destacava, inclusive, que diminuiriam as vagas de emprego no caso de vitória de Lula (PT).

“Aqui em Itapema todas as construtoras chamaram os empreiteiros, chamaram os funcionários, os donos estão se reunindo aqui, e é o seguinte: se o Lula ganhar, metade vai embora. Não é uma ameaça, é uma realidade. Se o Lula ganhar, metade dos peões vão embora. Está todo mundo assim, pressionando os funcionários. O que tem de projeto para lançar no fim do ano, ano que vem, vai parar tudo, ninguém faz mais nada”, é o teor de uma das gravações.

A região Sul é a que concentra o maior número de denúncias de assédio eleitoral no Brasil: 103 das 197 de todo o país. O Ministério Público do Trabalho (MPT-SC) afirma que está reforçando as recomendações para que os procuradores coíbam esse tipo de comportamento por parte de empresários. É sempre importante lembrar que o voto é livre e totalmente secreto.