“Volta pra África”, disse esta semana Grégoire de Fournas, deputado de extrema direita da França, quando o parlamentar Carlos Martens Bilongo, negro, fazia uma pergunta na Assembleia Nacional sobre o destino de imigrantes socorridos no mar Mediterrâneo, então bloqueados. A frase do deputado do partido Rassemblement National (RN), fundado por Marine Le Pen, provocou um escândalo no plenário e a sessão foi suspensa.
“Que deputado pronunciou essa frase?”, perguntou a presidenta da Assembleia, Yael Braun-Pivet, em meio à grita.
Nesta sexta-feira, o parlamento do país decidiu suspendê-lo por 15 dias. Fournas e seu partido tentaram se defender, dizendo que a frase não era dirigida ao parlamentar que discursava, mas aos imigrantes bloqueados em alto mar.
Marine Le Pen denunciou um “ataque à liberdade de expressão”. “Reivindicar que os barcos com imigrantes os levem de volta para a África não é racista,” sustentou a extremista.
O deputado agora suspenso apagou rapidamente diversos tweets com frases racistas. Não o suficiente para que a imprensa flagrasse suas declarações. “Não choca ninguém? Tenho o direito também de me perguntar se em Lormont, por exemplo, ainda restam brancos porque eu não tenho vontade de estar sozinho por lá?”, reagia no começo do ano a um artigo sobre a comunidade senegalesa da cidade da região sudoeste, conhecida por seu multiculturalismo.
https://twitter.com/2022Elections/status/1588231998396633092?ref_src=twsrc%5Etfw%7Ctwcamp%5Etweetembed%7Ctwterm%5E1588231998396633092%7Ctwgr%5Ed9fddb62163ad8bd3df2a1d588c96ef098452764%7Ctwcon%5Es1_&ref_url=https%3A%2F%2Fwww.huffingtonpost.fr%2Fpolitique%2Farticle%2Faccuse-de-racisme-gregoire-de-fournas-supprime-des-tweets-tendancieux_209797.html
Ele propunha que Marine Le Pen, se eleita presidenta, mandasse os argelinos de volta para a Argélia.
Um eleito regional havia observado em 2017, no plenário da região de Gironde, declarações racistas de amigos de Fournas sobre a imigração e antissemitas nas suas redes sociais, que datam de 2017, e que o extremista de direita não havia apagado: “Vai ser nojento, estamos sendo invadidos por essa merda. (…) Até agora, são os judeus que nos impõem essa detestável presença. Eles estão tranquilos, acreditem em mim!”
Mesmo se frases racistas já fazem parte da história do legislativo do país, o descaramento em plenário é percebido como inédito na quinta República.
Na última eleição legislativa, o RN elegeu 89 deputados, tornando-se o segundo maior partido, atrás apenas do governista Renaissance. Desde então, as “derrapagens” racistas vêm se tornando a norma entre colegas.
No início do novo mandato legislativo, o deputado do partido de Le Pen José González havia provocado polêmica.
Oriundo da Argélia quando era colônia da França, ele recebeu aplausos de parte do plenário ao dizer, às lágrimas: “Fui arrancado da minha terra natal. Deixei lá uma parte da minha França e muitos amigos”.
No mês seguinte, em julho, um correligionário chamou um deputado da região da Alsácia de “embaixador do Bundestag”, o que foi interpretado como um tratamento racista, já que a Alsácia foi devolvida pelo Reich à França após a I Guerra.
Diversas demonstrações de que a tentativa de “desmobilização” empreendida por Le Pen filha para normalizar seu partido e afastá-lo do estigma neofascista não passa de uma estratégia estética. São os mesmos neonazifasistas de sempre, agora engravatados e fazendo selfies sorridentes com o povo que querem oprimir.