O economista David Deccache, assessor econômico do PSOL na Câmara dos Deputados e mestre em Economia pela UnB, fez uma thread em seu Twitter para desmontar a falácia de que o fim do teto de gastos desincentivaria os investimentos estrangeiros no país. Acompanhe:
Um dos principais argumentos dos defensores do teto de gastos é derivado do conceito de Bond Vigilantes. O argumento é q os governos são reféns do que os investidores internacionais consideram como uma política fiscal disciplinada
Dizem que com o fim do teto, haveria uma venda massiva dos títulos do país e a elevação dos spreads cobrados sobre títulos públicos e privados, oq forçaria o país a elevar as taxas de juros domésticas ou a sofrer pressões inflacionárias decorrentes da desvalorização cambial.
Para avaliar o quanto os países são reféns dos Bond Vigilantes, Aidar e @juliambraga(2019) realizaram um estudo para analisar o comportamento do risco-país (medido pelo EMBI e pelo CDS) para 12 países emergentes, incluindo o Brasil, de 1999 a 2019.
O resultado da investigação empírica indicou que cerca de 70% da variação das séries de risco-país se deve a um fator comum a todas. Isto sugere que os capitais internacionais são muito mais movidos por fatores globais do que pelas condições particulares de cada um deles.
Também concluíram que a taxa de juros das economias centrais, a volatilidade das bolsas internacionais em episódios de turbulências e os preços das commodities costumam ser muito relevantes para explicar a liquidez internacional e os spreads de risco-país nas economias emergentes.
O gráfico que elaborei demonstra como o risco Brasil e o risco do conjunto de países emergentes, ambos medidos pelo EMBI+, seguem a mesma tendência, com exceções localizadas, via de regra, nos momentos de turbulência política interna.
O EMBI+ (Emerging Markets Bond Index Plus), calculado pelo Banco J.P. Morgan Chase, é um índice ponderado composto por instrumentos de dívida externa, ativamente negociados e denominados em dólar.
Apesar dos fatores externos serem predominantes na determinação do risco-país, o estudo de Aidar e Braga não afastou condicionantes internos como explicativos.
Crises políticas que coloquem em risco as instituições democráticas ou situações de tendência à insolvência em moeda estrangeira, casos da Argentina e Venezuela, são exemplos de situações domésticas adversas que fazem disparar o risco-país.
Neste sentido, também elaborei um gráfico que representa a relação entre o risco Brasil e o risco do conjunto de emergentes, ambos medidos pelo EMBI+, para ver os períodos em que as dinâmicas internas descolam o risco Brasil daquele auferido pelo conjunto de países emergentes.
O melhor momento da série é entre os anos de 2012 e 2013, período que os economistas ortodoxos brasileiros consideravam como de desorganização fiscal.
Com a crise institucional de 2015, o risco relativo disparou, exatamente em um momento de adoção de uma agenda fiscal contracionista. O risco relativo voltou a cair antes da aprovação do teto, logo a queda não pode ter sido causada por ele.
Por fim, subiu consideravelmente no governo Bolsonaro, que é visto internacionalmente como uma ameaça às instituições democráticas, ao meio ambiente e às boas relações diplomáticas.
Veja a thread original:
2. Dizem que com o fim do teto, haveria uma venda massiva dos títulos do país e a elevação dos spreads cobrados sobre títulos públicos e privados, oq forçaria o país a elevar as taxas de juros domésticas ou a sofrer pressões inflacionárias decorrentes da desvalorização cambial.
— David Deccache (@deccache) November 13, 2022
4. O resultado da investigação empírica indicou que cerca de 70% da variação das séries de risco-país se deve a um fator comum a todas. Isto sugere que os capitais internacionais são muito mais movidos por fatores globais do que pelas condições particulares de cada um deles.
— David Deccache (@deccache) November 13, 2022