Seriam os bolsonaristas doentes mentais? Por Leonardo Mendes

Atualizado em 16 de novembro de 2022 às 19:56
Bolsonaristas acampam em frente ao QG do Exército em Brasília. Foto: Reprodução/George Marques

Por Leonardo Mendes

Ao analisar com frieza as imagens desses patriotas há tantos dias sob sol e chuva em frente a quartéis de várias cidades, acreditando de fato que a qualquer momento os generais trocarão seus pijamas e arriscarão suas aposentadorias mansas e fartas para declarar guerra contra a democracia, é difícil duvidar que o que vemos ali não sejam pessoas que perderam em parte ou completamente o contato com o mundo real.

A insanidade, porém, é algo muito difícil de definir. No livro A História da Loucura, o filósofo francês Michel Foucault escavou arquivos médicos, documentos judiciários, pesquisas e notícias desde a Antiguidade para realizar uma espécie de trabalho arqueológico sobre o que ocidente tratou como maluquice ao longo dos séculos. Impressiona que por muito menos do que vemos hoje tanta gente foi parar em manicômios.

Há vídeos de patriotas cantando o hino nacional para um pneu, ou se jogando ao chão em transe ao ouvir notícias falsas absurdas. O patriota agarrado na cabine do caminhão percorrendo quilômetros em alta velocidade é talvez o símbolo maior desse surto coletivo.

Talvez já tenhamos dado risadas o bastante, e seja hora de encarar o problema com mais seriedade. De punir os financiadores golpistas ou nazifascistas que sustentam esse show de horrores e tentar tratar da saúde mental dos tios e tias do Zap que sofreram lavagem cerebral nos últimos anos e foram transformados nessas criaturas tragicômicas verde-amarelas, que nada tem a ganhar na luta inglória que travam com suas próprias fantasias.

Como fazer isso é um desafio a ser pensado. Seria possível salvar essa gente do ridículo que se tornaram? Certamente não será nada fácil, mas a nosso favor temos um pouco de tempo. A princípio quatro anos, para tentar impedir que o que hoje já nos parece tão patético e doentio, volte a parecer patético, doentio e assustador.

Se pudesse então dar uma única sugestão ao novo governo sobre por onde começar a fazer isso, escolheria o investimento urgente em Filosofia e Sociologia nas escolas. Isso porque mesmo que os tios e tias do zap já não frequentem a educação básica, seus filhos, sobrinhos e netos poderiam ajudá-los a recuperar a razão, e farão isso com muito mais facilidade se tiverem contato com essas disciplinas. Não à toa elas foram extintas do currículo durante a ditadura militar, e a burrice desavergonhada do bolsonarismo é filha legítima dessa política de extermínio do pensamento operada pelos militares nas escolas.

É hora de fazer o oposto, e considerar seriamente a burrice como um problema de saúde pública a ser combatido pela educação. Parafraseando Gilles Deleuze, é hora de demonstrar que Filosofia e Sociologia de fato não servem para nada. Nada além de fazer da estupidez algo vergonhoso. É preciso fazer com que eles voltem a se envergonhar. Que sintam a burrice como algo infame e perigoso, a burrice como primeiro estágio da insanidade patriótica que faz tiozões se agarrarem em caminhões em movimento contra a democracia.

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