Holiday foi expulso da Festa do Peão em Barretos após briga por cerveja e deu 3 versões para explicar até agora

Atualizado em 28 de novembro de 2022 às 14:14
O vereador de São Paulo Fernando Holiday: ele levou seus assessores parlamentares para fazer campanha eleitoral e ficou por isso mesmo

No dia 21 de agosto deste ano, o vereador de São Paulo Fernando Holiday (Republicanos), então candidato a deputado federal pelo NOVO, foi à Festa do Peão em Barretos, em atividade de campanha eleitoral.

Ele mesmo divulgou a agenda em suas redes sociais, com a seguinte descrição (o texto está copiado com redação e pontuação originais):

Na última semana eu e o Lucas Pavanato (então candidato a deputado estadual em SP – não eleito – pelo NOVO) estivemos em Barretos, na festa do peão conversando com as pessoas olho no olho e explicando nossas propostas. O nosso trabalho foi muito bem reconhecido, um grande sinal portanto, que estamos no caminho certo! 

Junto com o texto, o parlamentar publicou o vídeo abaixo, de campanha.

Isso foi tudo que Fernando Holiday contou a seus seguidores sobre o assunto, uma semana após o evento. Faltou contar muita coisa. O então candidato não contou que ele pode até ter tido seu trabalho “muito bem reconhecido”, mas a verdade é que foi expulso do evento pelos seguranças da Festa do Peão, ele e mais quatro pessoas que o acompanhavam.

Ele foi expulso porque estava exaltado durante um show sertanejo, derrubou cerveja nas pessoas, os seguranças foram chamados, mais de uma vez foram chamados, até que expulsaram o vereador e seus amigos do local. Segundo eles próprios, debaixo de porrada.

Há mais detalhes na história, segundo já contou o próprio vereador à Polícia Civil e à Justiça, o problema é que ele contou uma história aos policiais e outra ao juiz da 1ª Vara do Tribunal Especial Cível Central de São Paulo. É possível que ainda tenha que encontrar uma quarta versão para apresentar à Justiça Eleitoral.

Fernando Holiday passou a madrugada do dia 21 para 22 de agosto na Delegacia de Polícia do Parque do Peão em Barretos. Ele foi direto para lá após ser expulso da festa. Foi dar queixa. Fez um Boletim de Ocorrência, “denunciando” um crime de Lesão Corporal, como se pode ver abaixo.

Fonte: Polícia Civil do Estado de São Paulo

À polícia, então, Holiday deu mais alguns detalhes, que não viria a revelar a seus seguidores nas redes uma semana depois. Ele contou que estava em um show sertanejo na Festa, derramando cerveja em algumas pessoas que estavam à sua volta. As pessoas se irritaram e chamaram os seguranças. Na presença desses, Holiday admitiu sua exaltação e pediu desculpas a todos. “Então, ficou tudo bem”, disse Holiday à polícia.

Depois disso, sempre segundo Holiday, as pessoas atingidas pela cerveja continuaram “encarando” o então candidato e seus amigos. E então, sem qualquer motivo, narra o vereador, decidiram chamar novamente os seguranças, que já chegaram agredindo e expulsando Holiday e seus amigos, conforme se pode ler no Boletim de Ocorrência. Fernando Holiday teria sido o único de seu grupo que não teria sido agredido fisicamente.

Fonte: Polícia Civil do Estado de São Paulo

Daquela noite de 29 de agosto até a realização das eleições, Fernando Holiday não tocou mais no assunto. A versão oficial era a de que sua visita à Festa do Peão havia sido um sucesso. No dia 4 do mês passado, porém, depois de já ter perdido a eleição, o vereador resolveu processar por danos morais a empresa de segurança da Festa do Peão. Para tanto, o parlamentar teve que criar uma nova versão dos fatos.

À Justiça de São Paulo, como pode se ver abaixo, ele contou que seus acompanhantes eram, na verdade, todos seus assessores parlamentares. Os destaques na imagem foram inseridos pela reportagem.

Crédito: Tribunal de Justiça de São Paulo

Assim, pela maneira como foram descritos na petição inicial por seu próprio advogado, descobre-se que Fernando Holiday levou para sua agenda de campanha nada menos do que quatro assessores de seu gabinete parlamentar da cidade de São Paulo.

Mas, à Justiça Eleitoral, ele só declarou o trabalho de um desses assessores, Victor Hugo Granjeia, como se pode ver na prestação de contas de sua candidatura.

Só um assessor parlamentar de Holiday consta em sua declaração de contas eleitorais, e , ainda assim, a data do serviço prestado é anterior à Festa do Peão de Barretos (Crédito: Tribunal Superior Eleitoral)

 

Talvez, agora, Holiday venha a precisar de uma quarta versão para os fatos. Por ora, na Justiça comum em São Paulo, seu advogado tratou de narrar os fatos pintando Holiday e seus assessores parlamentares não como servidores do município de São Paulo em indevida atividade eleitoral, mas sim como jovens em uma balada sertaneja que estavam apenas querendo se divertir.

Ao contrário do que disse Holiday aos policiais no dia em que foi expulso do evento, seu advogado omitiu que fora ele, o vereador Fernando Holiday, quem deu início à confusão, primeiro derrubando cerveja nos outros, depois pedindo desculpas, depois sendo expulso. Na versão do advogado, o grupo todo se envolveu em um abraço coletivo, e respingos de cerveja acabaram por atingir outras pessoas. Os destaques no texto abaixo foram inseridos pela reportagem:

Eles foram para Barretos/SP acompanhar a tradicional Festa do Peão de Boiadeiro, no final de semana do dia 20 de agosto. Empolgados com o show da dupla sertaneja Marcos e Belutti, os Autores (Holiday e seus assessores) celebraram o momento com um abraço coletivo, tendo derramado um pouco de cerveja entre eles e, também, respingado em quem estava por perto.

Ocorre que, os atingidos pelos respingos seincomodaram e acionaram os seguranças do Réu para providências. Estes, no entanto, ao invés de buscar amenizar a euforia dos Autores, se utilizaram da violência, mediante emprego de empurrões, socos e até golpes de cassetetes.

O processo movido por Holiday é público. Seu número é 1019573-90.2022.8.26.0016. Ele pede R$ 1.500 em indenização, por danos morais. Admite que não foi agredido, mas acha que sofreu dissabores suficientes para justificar a indenização. De R$ 1.500.

O quanto o Poder Judiciário está gastando para que o jovem vereador supere seus dissabores, não se sabe, não foi feito o cálculo. O quanto a Justiça Eleitoral está deixando de tutelar enquanto não debruçar-se sobre a prestação de contas aparentemente irregular do ex-candidato a deputado federal, também não.