Num país sem governo e com o início da Copa, os factoides tendem a ser a pauta de imprensa na política.
É ninguém que pretenda ocupar espaços, na linha (nem sempre bem sucedida) da esperteza política, acha que vai consegui-los com declarações disciplinadas à dinâmica presidencialista, na qual cabem ao presidente eleito as definições de políticas e de ocupação de cargos.
Não surpreende, portanto, que a senadora Simone Tebet ande dando ‘cutucadas’ nas posições assumidas por Lula e pelo PT no processo de transição, especialmente em relação ao mercado financeiro, criticando o volume da PEC da Transição e à antecipação da indicação do Ministro da Fazenda.
Também não causa surpresa que Lula não atropele suas escolhas para cargos, inclusive o que será destinado à senadora sul-matogrossense no novo Governo.
O presidente eleito tem preocupação zero com a questão levantada pelos jornais, de que “de olho em 2026, aliados de Lula resistem a entregar a Simone Tebet ministério que administra Bolsa Família” por “receio de turbinar possível campanha da emedebista nas próximas eleições”.
Experiente como é, Lula sabe perfeitamente que quem vai com sede e pressa ao pote de colocar-se como candidato quatro anos antes de uma eleição é quase que certamente preparar o próprio fracasso. Ainda mais como “pré-oposição” ao governo em que vai participar e, ainda mais, tendo “carro-chefe” um programa que tem uma marca tão profunda do presidente eleito e do PT como o Bolsa Família.
Simone também está longe de ser reconhecida como líder de seu partido, seja porque não tem ascendência sobre a ala de Renan Calheiros, seja porque não é vista como representante da direção do PMDB, presidida por Baleia Rossi, temerista. Menos ainda tem liderança sobre o agronegócio, essencial para quem é do Centro-Oeste.
É claro que Lula não ignora que Tebet, vai “costear o alambrado” vez por outra, para usar a expressão que Brizola empregava em relação a aliados. Só que o inverso – Simone Tebet fantasiada de “petista” – nada agregaria ao seu governo. Neste momento, sabe que não deve dar a ela motivos para assumir a posição de “independente” mas, ao contrário, mostrar-lhe que suas pretensões dependem de que o “lulismo” enxergue nela uma companheira para projetos de médio e longo prazo.
Neste “campeonato”, Geraldo Alckmin lidera com muitos pontos de vantagem.
Texto publicado originalmente em Tijolaço