Bolsonaro vai ao encontro da sua base militar por não temer o sistema de Justiça. Por Moisés Mendes

Atualizado em 25 de novembro de 2022 às 22:57
O presidente Jair Bolsonaro (PL) e militares
Foto: Reprodução/PT

Por Moisés Mendes

A visita de Bolsonaro ao Supremo, no dia 1º de novembro, mereceu três parágrafos no site do STF. Está ali nos arquivos que ele conversou cordialmente com a presidente, Rosa Weber, e seis ministros que estavam na casa.

A notícia ressalta “a importância do reconhecimento pelo presidente da República do resultado final das eleições” e o fato de que ele enfatizou “a garantia do direito de ir e vir, em razão dos bloqueios nas rodovias brasileiras”.

E conclui a nota: “Tratou-se de uma visita institucional, em ambiente cordial e respeitoso, em que foi destacada por todos a importância da paz e da harmonia para o bem do Brasil”.

Não há foto da reunião, que aconteceu dois dias depois do segundo turno e logo após a fala de Bolsonaro em que ele reconheceu a legitimidade dos protestos nas estradas, apesar de dizer, para cumprir protocolo e ter habeas corpus na reunião no STF, que o direito de ir a vir deveria ser respeitado.

O Supremo e o Planalto não fizeram a foto da reunião, que durou uma hora. Os ministros não quiseram aparecer com o chefe do golpe. Por saberem que ele continuava sendo o líder golpista e que aquele encontro era uma farsa.

Mas há foto do encontro de Lula com Rosa Weber e seus colegas no dia 9 de novembro, também no STF. Ter ou não a foto parece um detalhe, mas não é.

Bolsonaro foi ao STF para pedir trégua, mesmo que não tenha dito uma palavra nesse sentido, uma só. Não precisava. Mas o STF não quis imagem da reunião de improviso.

Vinte e três dias depois, Bolsonaro anunciou seu primeiro compromisso fora do Alvorada e do Planalto depois da derrota.

A agenda, a primeira na rua depois daquela reunião de 1º de novembro no Supremo, é um evento militar com grande força simbólica.

Nesse sábado, Bolsonaro vai a uma cerimônia de formatura de cadetes da Academia Militar das Agulhas Negras, a Aman, no Rio.

Na única aparição pública depois de derrotado, foi até o Supremo que ele atacou sistematicamente nos últimos dois anos. Depois disso, só irá reaparecer no sábado num evento com militares.

Bolsonaro não participará de agenda em algum espaço da saúde pública, da educação, da cultura ou da economia. Nem pastel vai comer na feira em Brasília.

Vai ao encontro dos militares, que recebem desde a derrota os patriotas acampados diante dos seus quartéis.

É a jogada de um desesperado, que tenta fidelizar sua base militar a qualquer custo. Bolsonaro, mesmo sem rumo e sem futuro, não teme mais nada.

Ele ouve o que espera escutar. Os advogados, os palpiteiros, os do centrão e os próprios militares disseram ao sujeito que nada acontecerá quando deixar o governo.

Que ele não precisa temer a Justiça, porque a maioria dos processos que enfrentará andará com lerdeza em varas da primeira instância. Que está tudo pronto para que o Supremo seja acossado e amordaçado pelo Senado.

E que o sistema de Justiça não terá braços para cercar a família, os amigos da família, os empresários protegidos, os milicianos e inclusive os militares investigados por envolvimento com os vampiros da venda de vacinas na pandemia.

Bolsonaro vai juntar patriotas diante da Aman para que continue testando o que pode ser testado, até entregar o cargo a Lula, mesmo que seja cada vez mais improvável a hipótese de uma ruptura.

O derrotado não tem mais nada a perder. Vai bater continência para os cadetes e ser bajulado pela extrema direita, porque é o que lhe resta.

Não é muito, mas pode ser o suficie-nte para que sobreviva, mesmo que a pão e água, até ser considerado politicamente morto pelo próprio fascismo.

Publicado originalmente no blog do autor

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