Por Moisés Mendes
Todos os dias o golpe tem pelo menos um emissário, mas é a primeira vez que uma mensagem chega do Catar e, como surpresa, por interferência da mulher de Eduardo Bolsonaro.
Heloisa Wolf escreveu: “Pra quem acha que tudo se resume a futebol, posso garantir uma coisa: a bola tá rolando e ainda tem muito jogo”.
A Copa tem jogo até a final do dia 18, e a Polônia, um dos times mais medíocres da competição, está classificada para as oitavas.
A bola continua rolando até para a Polônia. Mas só finge que rola para o golpismo no Brasil.
Falta time aos golpistas, e eles sabem que o jogo acabou. Mesmo com a intensificação do blefe de que vem aí uma guerra civil. A ameaça de guerra é uma presença cotidiana.
Nunca falaram tanto em guerra civil. Jardineiros, advogados, professores, deputados, médicos, encanadores, garçons, onde há alguém falando com alguém há também a expressão guerra civil.
São diários os relatos de quem ouviu alguém dizer que haverá uma guerra civil. E, se houver uma guerra, o Exército terá de intervir.
Já não falam tanto, nessas conversas que chegam também aos ouvidos de quem não é golpista, em intervenção militar como ponto de partida. Falam em guerra civil.
As casernas, segundo a fala que empurrou o conselheiro do TCU João Augusto Nardes para uma licença médica, estão prontas para intervir no caso de uma guerra civil.
O general Eduardo Villas Bôas já avisou que, “nesse momento extremo” vivido pelo país, “nossa força, em algum momento, pode ser instada a agir”.
Generais de pijama avisaram, em manifesto, que o povo pede socorro às Forças Armadas, diante da ameaça de uma “convulsão social”.
O golpe é o ovo e é galinha. Já esperaram que os generais assumissem a iniciativa de impedir a posse de Lula. Foi o apelo do começo dos acampamentos e da farra das estradas.
Alguém mandou que trocassem intervenção militar por resistência civil. Sai a palavra militar, entra a palavra civil, e os patriotas mostram um resto de racionalidade e apresentam um habeas corpus. Querem resistência, e não um golpe.
Mas o que prevalece é que a guerra civil vai desencadear a intervenção. Uma sequência com algum planejamento militar.
Resistência, provocação, atos violentos, afronta às instituições, confronto com discordantes, conflitos nas estradas e nas ruas e, na sequência, a intervenção dos comandantes instados a agir.
Definir o que é o ovo e o que é a galinha do golpe parece irrelevante, mas não é. A aposta de Bolsonaro, dos militares e dos patriotas que tentam contato com marcianos é a da ruptura, a da guerra.
Mas o golpe falhou nas ruas por falta de densidade e sobriedade, muito mais do que por déficit numérico. Não falta gente para criar o clima e levar a um impasse e à intervenção.
Falta lastro de seriedade e falta reputação ao golpismo que frequenta acampamentos, bloqueios e a Copa no Catar. A imagem consagrada é a da violência nas estradas e do transe nas cidades.
Falta seriedade ao golpismo. Não há como aplicar um golpe levando pendrives secretos à Doha.
Não há como aceitar como razoável que se dissemine pelo país as
tentativas de contato com extraterrestres, via celular, enquanto Bolsonaro dorme no Alvorada.
O transe do golpe é muito mais uma fuga, uma alucinação, do que um esforço de conexão com a realidade dos perdedores.
Falta ao projeto de golpe o que é expresso numa palavra antiga e em desuso, tão em desuso quanto o verbo instar usado pelo general Villas Bôas. Falta verossimilhança.
Por tudo isso, é possível que o pendrive levado por Eduardo ao Catar tenha até uma versão do golpe em metaverso, com soldado, cabo, jipe e um ET golpista.
Originalmente publicado em BLOG DO MOISÉS MENDES
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