POR FERNANDO DRUMMOND
Aílton Guimarães Jorge, conhecido como Capitão Guimarães, foi preso pelo homicídio de um pastor por agentes da PF e do Ministério Público do Rio de Janeiro numa operação na manhã desta quarta-feira (7).
Ele é um dos principais contraventores do Rio e suspeito de ser o mandante do assassinato de Fábio Aguiar Sardinha, 41 anos, morto em frente ao pai em um posto de gasolina em julho de 2020, no Colubandê, em São Gonçalo. A suspeita é que Fábio tenha desviado dinheiro da quadrilha.
Guimarães é um velho conhecido da minha família.
Há tempos, eu ouvia rumores de que meu pai havia sido preso na ditadura. Porém, ele nunca tinha me contado sua história, tamanha era sua dor.
Um dia, entre chopes e petiscos, com os olhos marejados, meu pai disse que “minha avó tinha dado à luz duas vezes a ele”. Meu avô, comandante Jorge Gabriel Fernandes, quando do golpe militar, havia ido para a reserva como capitão de mar e guerra, por ter tido um cargo de confiança no governo João Goulart.
A Marinha era o amor da vida dele e um câncer avassalador o levou seis meses após o golpe, quando meu pai tinha 10 anos.
Um amigo, o então governador do Rio de Janeiro, Faria Lima, “tomou conta da família”.
Quando, anos mais tarde, meu pai, José Octávio Câmara Fernandes, foi preso por ser considerado subversivo e atirador de elite na luta armada, o governador tentou, a pedido de minha avó viúva, soltar meu pai. As acusações eram tão graves que, mesmo com a intervenção, levou um ano para ele ser libertado.
O inferno de meu pai foi “capitaneado” por Guimarães. Era ele quem liderava a maioria das sessões de tortura contra meu velho. Hoje, ainda vivo, ele não sente os dois dedos indicadores por ter tomado choques, além de coisas pavorosas como descargas na glande, pau-de-arara etc.
Já no governo Dilma, quando ocupava a Delegacia Federal do Ministério do Desenvolvimento Agrário, meu pai denunciou um esquema de grilagem de terras. Qual não foi sua surpresa ao descobrir que seu algoz, Capitão Guimarães, era um dos chefes da quadrilha.
Meu pai não podia dormir com as luzes apagadas. Entretanto, nesse dia da prisão de Guimarães, parece que a luz venceu as trevas e que a noite que durou décadas não mais será escura.