Carluxo escreveu sobre a impotência e a solidão do pai em nota confusa publicada no Twitter. O filho se esforça para oferecer, mas só aos que ainda merecem, a dimensão do drama de um homem abandonado.
Poucos são merecedores dessa atenção. Carluxo fala dos sacrifícios do pai e da insensibilidade dos que achavam que ele poderia tocar o golpe sozinho.
Refere-se ao blefe como “um processo tremendamente complexo” e manda recados aos que saltaram fora do projeto golpista.
O que ele acaba dizendo é que sobraram para Bolsonaro, do entorno que o acompanhou até a eleição, uns poucos abnegados.
Para as aparições públicas, sobraram um pastor e um padre. Não há políticos ao lado do sujeito em eventos com militares ou nas caminhadas em silêncio na área verde do Alvorada.
Não há políticos nos acampamentos, mesmo que o vice-presidente e senador eleito Hamilton Mourão repita que é legítimo “o clamor das manifestações a que assistimos”.
Um clamor legítimo, constitucional e democrático, mas que não atrai nem mesmo um vereador da extrema direita.
Políticos com mandato não têm coragem de aparecer nas aglomerações diante dos quartéis, para dizer apenas que são solidários com Bolsonaro.
O derrotado foi abandonado pelos que, segundo Carluxo, são apenas militantes virtuais “caçadores de likes”. Sumiram os que poderiam expressar companheirismo e aparecer na foto com o líder abatido.
Os deputados estaduais Carlos Von Schilgen (Democracia Cristã) e Capitão Assumção (PL), do Espírito Santos, alvos de busca e apreensão da Polícia Federal, deveriam receber medalhas de honra ao mérito dos Bolsonaros.
Os dois mostraram a cara e foram para a militância aberta pelo golpe, enquanto a maioria dos políticos se recolheu à sombra com a água fresca das omissões.
Também despareceram os empresários milionários que declaravam publicamente apoio ao golpe e já estão denunciados como financiadores dos patriotas.
E o respaldo protocolar de Mourão aos acampados revela muito mais uma tentativa de não se indispor com a sua base, sem nenhum sinal de apoio às pretensões de Bolsonaro.
O general entende e lamenta o que vê como “sofrimento interno” do chefe, como disse em entrevista à Rádio Gaúcha, mas adverte que nenhum milagre pode salvar o derrotado.
Nem mesmo um raio milagroso, que caísse sobre sua cabeça, salvaria Bolsonaro, segundo Mourão, no sentido de fazê-lo voltar no tempo e evitar a derrota para Lula.
Bolsonaro perdeu, diz Mourão, e a hora é de descer a rampa. Os que estão na frente dos quartéis que fiquem por lá, porque não será ele, o general eleito senador, que irá desautorizá-los.
Mas esse é o seu limite. O Bolsonaro já sem tropas sabe que Mourão está no vácuo da sua clausura depressiva.
O recolhimento no Alvorada criou o ambiente para as investidas de Mourão, que passa a falar para o mesmo público, como se fosse uma cópia do derrotado.
Sozinho, sem perspectivas de vir a ser o líder da oposição a Lula, Bolsonaro é, também na definição de Carluxo, vítima da falta de compaixão.
O filho escreveu que os apressados para que o golpe aconteça exigem tudo: “Quero já, se vira, arruma, resolve”.
Não há como resolver. Sumiram os militares. Desapareceram os deputados eleitos com a dinheirama do orçamento secreto.
A maior bancada de extrema direita que o Congresso terá não existiria sem Bolsonaro.
Mourão seria apenas um general da reserva. Ninguém saberia quem é Eduardo Pazuello.
Damares Alves estaria vendo Jesus na goiabeira. Mas, sem Bolsonaro, a goiabeira seria mais famosa do que ela.
E Bolsonaro, que elegeu toda essa turma, está só, porque as ações golpistas aconselham que não mostrem a cara.
É a turma do me-deixe-fora-disso. Bolsonaro queria a elite da extrema direita civil e militar ao seu lado.
Tem Valdemar Costa Neto e o cacique Serere Xavante, que está preso.
Originalmente publicado em BLOG DO MOISÉS MENDES
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