Por Eduardo Maretti
O novo governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva confirmou sete ministros. Os já anunciados para algumas pastas-chave representam pontos nevrálgicos para um governo que vai assumir com a tarefa de reconstruir o país, assolado por quatro anos de bolsonarismo. Outros postos têm sido objeto de intensas negociações, que paralelamente envolvem a montagem da base do presidente eleito no Congresso e a aprovação da PEC da Transição.
Ao mesmo tempo, no complexo xadrez político da montagem do ministério, o presidente eleito precisa contemplar tanto os partidos que estiveram ao seu lado na disputa eleitoral como os estados que elegeram aliados ou lideranças próximas. Leia-se Nordeste. A nomeação dos ex-governadores Rui Costa (Bahia) e Flávio Dino (Maranhão), e também o pernambucano José Múcio, deixam esse critério regional evidente.
Pelas informações do últimos dois dias, Lula deve anunciar mais cinco ou seis nomes para ocupar a Esplanada dos Ministérios na próxima semana. Mas também pode acontecer algum anúncio de surpresa a qualquer momento, para saciar a “sede de notícia” da mídia.
A propósito, três semanas depois da eleição, o vice de Lula, Geraldo Alckmin, foi pressionado pela jornalista Miriam Leitão para revelar nomes do futuro ministério. Como resposta, o ex-tucano e homem de confiança de Lula saiu-se da pressão com humor: “Eu dizia que tinha dois ansiosos na vida: políticos e jornalistas. Agora acho que tem três: políticos, jornalistas e o mercado”.
Expectativas de aliados
Dentro do PT e no entorno de Lula a expectativa é de que novas nomeações de peso só ocorram depois de terça-feira, quando pode ser destravada a negociação da PEC da Transição. Lula deve conversar com Arthur Lira (PP-AL), presidente da Câmara, antes disso. Ainda não se sabe se a negociação terá êxito. Se fracassar, o plano B poderá ser uma medida provisória.
Anúncio de ministro para uma pasta muito cobiçada antes de o processo da PEC ser destravado poderia contrariar aliados da frente ampla. Isso significaria votos a menos na votação da PEC, que precisa de 308. “E cada voto é importante”, sinaliza Jilmar Tatto, secretário nacional de Comunicação do PT, à RBA.
Sobre eventual nomeação de nomes de fora do PT ao ministério, Jilmar confirma à reportagem que, como divulgado em outro veículo, ele disse de fato que o partido “não criará óbice àquilo que o presidente escolher”. A pasta em questão é o Desenvolvimento Social, que é a desejada pela senadora Simone Tebet (MDB).
“Perguntaram se o PT se opunha à indicação do presidente. Eu falei que não. Provavelmente (a pergunta) era sobre a Simone Tebet também. O PT não se opõe às indicações do presidente. O PT gostaria que nesse ministério fosse alguém do partido. É diferente (de dizer que se opõe). O PT indica, reivindica, opina, mas a prerrogativa é do presidente”, diz o dirigente.
Os nomes confirmados até agora foram respostas a urgências políticas. Com Haddad, por exemplo, Lula sinalizou que não abriria mão de alguém de sua confiança, embora disposto a dialogar com o mercado. Com José Múcio, a intenção foi apaziguar e o Alto Comando das Forças Armadas, com um nome de fora do PT e “palatável” aos militares, depois da perigosa militarização de Bolsonaro e sua constante ameaça à democracia.
Confira abaixo os ministros já confirmados
- Fazenda – Fernando Haddad;
- Casa Civil – Rui Costa;
- Defesa – José Múcio Monteiro;
- Justiça – Flávio Dino;
- Relações Exteriores – Mauro Vieira;
- Trabalho – Luiz Marinho;
- Cultura – Margareth Menezes.
Nomes que podem vir a ser anunciados
Embora ainda não esteja confirmado, o ex-governador do Ceará Camilo Santana deve ser o ministro da Educação.
Ex-ministro da Saúde de Dilma Rousseff, Alexandre Padilha é um nome certo para a Esplanada dos Ministérios. Ele é cotado para as Relações Institucionais, pasta que já ocupou no segundo mandato de Lula.
Simone Tebet é não apenas o principal nome do MDB para o governo como pretende ter o comando do Ministério do Desenvolvimento Social. Aparentemente, Lula ainda não bateu o martelo porque essa é uma pasta considerada “vital” para o PT.
O atual presidente da Fiesp, Josué Gomes da Silva, já foi convidado por Lula para assumir o Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior. Na Fiesp, Josué sofre uma tentativa de “golpe” por parte do ex-presidente da entidade, o bolsonarista Paulo Skaff, que quer derrubá-lo. Josué é filho do ex-presidente José Alencar, e por isso é também da conta pessoal de Lula no que se refere a afeto e fidelidade, o que o petista valoriza muito.
Primeira mulher na saúde
A sanitarista Nísia Trindade é a mais cotada para assumir a Saúde. Presidente da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) desde 2017, é considerada um “sonho” para assumir a pasta que Jair Bolsonaro vilipendiou, deixando sob a tutela do general Eduardo Pazuello em plena pandemia de covid-19. Nísia é doutora em Sociologia (1997) e mestre em Ciência Política (1989) e seria a primeira mulher a comandar a Saúde.
Outro nome considerado certo no ministério é Márcio França (PSB). Ex-pré-candidato ao governo de São Paulo, ele abriu mão da candidatura para apoiar Fernando Haddad ao Bandeirantes e Lula à presidência. Ele está citado para o Ministério das Cidades, de Ciência e Tecnologia ou dos Portos. A bancada do PSB o indicou para a pasta em 30 de novembro.
O ex-governador de Alagoas e senador eleito Renan Filho (MDB) apareceu nos últimos dias como um nome que pode comandar o Planejamento. A economista Esther Dweck, da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), já apareceu como cotada para a pasta, como nome técnico para atuar em parceria com Haddad na Fazenda.
Planejamento, AGU e CGU
Porém, a necessidade de nomes políticos para contemplar o grande número de aliados tende a pesar mais na reta final. Também aparece como candidato ao posto o ex-governador do Piauí e senador eleito Wellington Dias (PT).
Lula já escolheu os nomes para comandar a Controladoria-Geral da União (CGU) e a Advocacia-Geral da União (AGU), segundo o jornal O Estado de S. Paulo. Para a AGU, o nomeado será o procurador Jorge Messias, ex-subchefe de Assuntos Jurídicos na Casa Civil do governo Dilma Rousseff.
Para a CGU irá o advogado Vinicius Marques de Carvalho, que foi presidente do Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade) e secretário de Direito Econômico do Ministério da Justiça no governo Dilma.
Publicado originalmente em Rede Brasil Atual