Por Helena Chagas
Aos 45 minutos do segundo tempo, Jair Bolsonaro parece ter percebido que sua estratégia de sair de fininho, em silêncio, pode lhe custar a liderança da oposição no país. Por isso, fez uma última live antes da fuga anunciada e ensaiou certo recuo: condenou o terrorista George Washington e fez um discurso de quem olha para frente, ao dizer que não partirá para o “tudo ou nada” e que o mundo não vai acabar em 1º de janeiro.
Mas Bolsonaro, nesse último pronunciamento ao país, continua irremediavelmente golpista – e deixa entrever sua estratégia e discurso na oposição nos próximos quatros anos.
Embora tenha dito que não iria contestar as urnas e condenado o terrorismo – medo de ser punido, certamente -, o Bolsonaro quase ex-presidente pegou no colo os golpistas que ainda se aglomeram nas portas dos quartéis. Como se não houvesse elementos suficientes a mostrar que saem desses acampamentos os terroristas que ameaçam a população, o presidente referiu-se à “massa” de pessoas que foi para as ruas, protestando.
“Essa massa, atrás de segurança, foi para os quartéis. Não participei desse movimento, me recolhi. Acreditava, e acredito ainda, que não falar sobre o assunto para não tumultuar mais ainda. O que houve pelo Brasil foi uma manifestação do povo, não tinha liderança, ninguém coordenando. E o protesto, pacífico, ordeiro, seguindo a lei, tem que ser respeitado, contra ou a favor de quem quer que seja”, disse Bolsonaro.
Com essas palavras, e o argumento de que “não foi uma campanha imparcial”, estruturou o discurso que deve manter na oposição e que servirá para continuar agregado seus golpistas – o de que as eleições não foram justas. Equilibrando-se nas palavras para não ser acusado de cometer crime contra a democracia – o que já fez muitas vezes – , passou a mão na cabeça dos golpistas e indicou que continuará estimulando esse comportamento.
Dados do controle aéreo mostram que o airbus presidencial, com Bolsonaro a bordo, está decolando neste início de tarde para Orlando. Aparentemente, uma viagem só de ida, de quem teme perder o passaporte e quer esperar como é que ficam os inquéritos dos quais é alvo no STF antes de decidir se volta ou se oficializa a fuga. Que Bolsonaro receba bons conselhos do Pateta, do Harry Potter e da Cinderela.
Originalmente publicado em DIVERGENTES
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