Na terra plana a tragédia é contínua, na terra redonda a história é dinâmica. Por Hildegard Bogossian

Atualizado em 22 de fevereiro de 2023 às 1:14
Foto de Bolsonaro
Bolsonaro. Foto: Marcos Corrêa / Agência O Globo

Por Hildegard Bogossian

No dia em que o mundo chora a morte do maior atleta do futebol de todos os tempos, Pelé, os brasileiros vivem um misto de tristeza profunda por essa perda e de euforia pela reconquista da Democracia.

Na Terra Plana tudo segue linearmente rumo à tragédia. Na Terra Redonda, a História se reencontra e se repete, de tempos em tempos. Para falar de hoje, voltemos a mais de seis décadas, ano 1961.

As imagens são do vice-presidente da República “dos Estados Unidos do Brasil”, como diz João Goulart em seu discurso para três mil representantes do Partido Comunista Chinês, no Congresso Nacional do Povo, em Pequim. Aquela foi a primeira visita oficial de um chefe de Estado sul-americano à China.

A iniciativa visionária de Jango de procurar estreitar laços diplomáticos e comerciais com o país asiático, sobre o qual o mundo pouco conhecia, aconteceu enquanto, no Brasil, o presidente Jânio Quadros renunciava, provocando grave crise institucional.

A viagem de Jango foi pretexto para rotulá-lo de ”comunista”, com resistência dos militares para lhe garantirem a passagem do governo. Foi necessário que o governador gaúcho Leonel Brizola organizasse uma mobilização civil e militar, a “Campanha da legalidade”, o que viabilizou a posse.

Passados 61 anos, a visão progressista de Jango se confirma, com a China, uma potência, como o atual maior parceiro comercial do Brasil.

Rever o passado resgata a memória do estadista João Goulart, cujo mandato foi interrompido em 1964 por um golpe baseado em argumentos tão fictícios quanto os que, em 2016, levaram ao impeachment de Dilma, ao tenebroso mandato de Temer, à prisão de Lula e à eleição de Jair Bolsonaro, em 2018. Quatro anos que serão lembrados no futuro como a Grande Catástrofe Brasileira.

Com a fuga de Jair, o Brasil vive o delicioso resgate da Democracia, que vinha sendo violentada, sob a máscara de um fantasioso “estado de direito” assentado sobre mentiras, distorções e um ilusionismo tecnológico perverso.

O Brasil, mais uma, vez foi salvo de um sequestro, com saldo de sofrimento, fome, violência, assaltos aos cofres públicos e pelo menos quatro centenas de milhares de mortes evitáveis da COVID.

Originalmente publicado em JORNALISTAS PELA DEMOCRACIA

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