O golpe na imagem da extrema direita parece ter sido severo depois dos ataques de 8 de janeiro em Brasília, sobretudo com uma ampla condenação internacional. Mas ela permanece mobilizada. Em Portugal, André Ventura, deputado do partido Chega, provocou revolta na Assembleia dos Deputados ao dizer que “compreende” os golpistas brasileiros. O parlamento do país aprovou por unanimidade uma moção que condena o vandalismo no Brasil.
“Compreendemos a fúria e angústia de milhões de brasileiros por verem o seu país governado por um bandido”, disse nesta sexta-feira (13) o líder do partido de extrema direita no plenário.
A reação dos parlamentares foi imediata. Augusto Santos Silva, presidente da Assembleia, repreendeu o deputado. “Senhor deputado, essa expressão é ofensiva em relação ao presidente de um país muito amigo de Portugal e, portanto, ao abrigo do regimento, sou obrigado a pedir a Vossa Excelência que não use essa expressão referindo-se ao Presidente da República (Federativa) do Brasil ou qualquer outra república”, afirmou.
“Pensa que nos toma a todos por parvos, pensa que nos toma a todos por desconhecedores da realidade ao dizer que compreende as razões de quem sobe a rampa do Palácio do Planalto para invadir as instituições brasileiras, ignorando o Estado de Direito, o resultado das eleições e a forma como em democracia se resolvem os diferendos. Faz de conta que essas palavras não são as que mobilizam as pessoas contra a democracia. É tomar-nos por parvos e é hipócrita na forma como o faz”, criticou Pedro Delgado Alves, vice-presidente da bancada do Partido Socialista. Sua intervenção foi aplaudida de pé pelos deputados do PS.
Rui Tavares, deputado do partido Livre, lembrou que o Chega “deixou uma corda com uma forca à entrada do Tribunal Constitucional”. Os líderes dos demais partidos repudiaram igualmente o discurso de Ventura e reforçaram seu apoio à transição democrática e ao respeito às instituições brasileiras.
Sob pressão, o Chega terminou votando junto com os demais partidos para aprovar a moção que condena os atentados em Brasília.
A moção propõe que o Parlamento condene “a invasão e a vandalização dos edifícios do Congresso Nacional, do Palácio do Planalto e do Supremo Tribunal Federal da República Federativa do Brasil”.
“Expressa a sua profunda solidariedade com todas as instituições atingidas e manifesta o seu inequívoco apoio às autoridades brasileiras na reposição da ordem e da legalidade, sublinhando a necessidade de defender e salvaguardar o pleno funcionamento das instituições democráticas e reafirmando os laços fraternos que unem os povos português e brasileiro”, segue o documento.
Na semana passada, André Ventura havia dito à imprensa que as invasões aos Três Poderes em Brasilia prejudicava a imagem da “direita” no mundo inteiro. Ele parabenizou Bolsonaro por “rejeitar qualquer ligação aos manifestantes”. O extremista foi um forte apoiador da reeleição de seu correligionário brasileiro. Defensor dos “cidadãos de bem”, ele adota um discurso hostil à imigração no país, em particular contra a comunidade cigana. Na visão do parlamentar, ela cresce “descontroladamente”.