Militares das três armas desejam que a semana termine logo, porque a sequência de acontecimentos tem sido terrível.
Pode parecer uma obviedade para alguns e um exagero para outros, mas precisa ser dito. A partir de agora, fica claro que Janja tem mais autonomia, com ampla liberdade de ação, e manda mais dentro do governo do que os generais.
Vamos aos fatos. O ex-comandante da Polícia Militar do Distrito Federal, coronel Fábio Augusto Vieira, que está preso, fez declarações fortes à Polícia Federal.
Disse no dia 12, mas ficamos sabendo nessa semana, que tentou por três vezes remover os patriotas do acampamento ao lado do QG do Exército em Brasília. O coronel assegura que os militares não deixaram.
Jornais e sites, entre os quais o UOL, observaram que no final de dezembro o Exército havia anunciado que iria retirar os acampados em Brasília. O acordo, é claro, não foi cumprido.
Nesta quarta-feira, o Ministério Público Federal acatou uma notícia-crime da deputada eleita Luciene Cavalcante (PSOL-SP) contra o general Júlio César de Arruda, comandante do Exército, por prevaricação, por nada ter feito para desfazer os acampamentos.
Na terça-feira, Lula determinou que 56 militares em cargos de confiança em áreas diversas fossem demitidos.
Alguns foram dispensados porque não cuidavam direito da gestão do Palácio da Alvorada, como Janja denunciou ao mostrar a degradação de instalações, móveis e objetos.
Na quarta, Lula ordenou que mais 13 militares, do Gabinete de Segurança Institucional (GSI), fossem mandados embora.
Na mesma quarta-feira, o deputado federal José Guimarães (PT-CE), líder do governo na Câmara, assegurou que há cerca de 20 mil militares dentro do governo, e não 6,6 mil, como vinha sendo noticiado.
Também nesta quarta, o jornalista Caio Junqueira, da CNN, noticiou que o candidato a vice na chapa de Bolsonaro e ex-ministro da Defesa, general Walter Braga Netto, teria participado da articulação do golpe.
Junqueira escreve que o general “liderou, após a derrota eleitoral, reuniões em Brasília nas quais foram discutidas alternativas para reverter o resultado eleitoral”.
Entre as medidas, estaria a aplicação do artigo 142 da Constituição Federal, cuja interpretação torta pela extrema direita poderia provocar uma intervenção militar.
A CNN lembra que a minuta de um decreto nesse sentido foi encontrada na casa de Anderson Torres, ex-ministro da Justiça de
Bolsonaro, agora preso. Braga Netto sabia?
E à tarde veio a bordoada definitiva, quando Lula disse em entrevista a Natuza Nery, da Globo News, que todos os militares golpistas serão punidos.
E falou, em tom de reprimenda, que enfrentou o constrangimento de não ser alertado pelos serviços de inteligências das três armas de que um golpe estava sendo tramado para o dia 8 de janeiro.
Se fosse preciso fazer um resumo da entrevista essa seria a síntese, que vale como um recado de Lula aos brasileiros: não tenham medo dos militares, porque eles terão de se entender comigo.
Leiam esse trecho da entrevista:
“As pessoas estão aí para cumprir suas funções, e não para fazer política. Quem quiser fazer política, tira a farda, renuncia ao seu cargo, cria um partido político e vá fazer política. Mas enquanto estiver servindo as Forças Armadas, enquanto estiver na Advocacia Geral da União, enquanto estiver no Ministério Público, essa gente não pode fazer política”.
E leiam o que Lula disse de Janja:
“Pois bem, nós ganhamos as eleições. Então agora eu tenho quatro anos, eu quero me dedicar 24 horas por dia, e a Janja sabe disso, a Janja é minha parceira, ela sabe que ela tem que trabalhar também; ela vai fazer o que ela quiser fazer. Ela não é obrigada a ter uma agenda comigo, ela vai comigo quando ela quiser ir comigo, mas ela vai fazer o que ela quiser, porque nós dois queremos ajudar a reconstruir esse país”.
Pronto. Lula disse que Janja vai fazer o que bem entender. E acomodou os militares em seus quadrados e pediu para que dali não saiam mais.
Foi uma semana que as Forças Armadas tentarão esquecer. Mas ainda faltam três dias para que a semana termine.
Originalmente publicado em BLOG DO MOISÉS MENDES