O arquiteto e artista plástico Dilson Cunha teve um texto seu viralizado nas redes sociais na qual comparava a imagem do Cristo Morto, de Holbein, com a foto amplamente difundida na web de um indígena Yanomami vitimado pela fome imposta a seu povo pelo governo de Jair Bolsonaro. Confira:
A semelhança entre o Cristo Morto, de Holbein, e o índio Yanomami não é mera coincidência. Ambos estão despidos de suas humanidades bem como de suas divindades. Ambos trazem no semblante a dor do abandono. Ambos, cadavéricos e rígidos, estão carregados de sofrimento e putrefação. Ambos, insepultos.
Diante do Cristo Morto de Holbein, na cidade de Basiléia, Dostoiévski, estático por cerca de quinze minutos, emudeceu e teve sintomas de epilepsia sem ser epilético. Como ficar indiferente? Como ignorá-lo?
Diante do índio moribundo estamos nós, e não há como fugirmos dele, fingirmos que não o vimos. Vimos! E em carne e osso. Pouca carne, muito osso. Carregado de muitas e indizíveis dores.
Ah, sim, ouso parafrasear o profeta Isaías:
“(…) não tinha beleza nem formosura e, olhando nós para ele, não havia boa aparência nele, para que o desejássemos.
Era desprezado, e o mais rejeitado entre os homens, homem de dores, e experimentado nos trabalhos; e, como um de quem os homens escondiam o rosto, era desprezado, e não fizemos dele caso algum.”
Aí você me dirá: é sobre Cristo que Isaías está falando.
Daí eu lhe direi: sim, eu também. Porque quem não viu Jesus nesse Yanomami não o verá em nenhum outro lugar.
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