A terra indígena Yanomami em Roraima é marcada por um cenário de desnutrição e de doenças em um grave desastre humanitário que explodiu nos últimos 4 anos, durante o governo de Jair Bolsonaro (PL). Dezenas de crianças estão internadas na Casa de Saúde Indígena com sinais de verminose. Com informações da Folha de S.Paulo.
De 13.748 crianças aptas ao tratamento de verminoses no primeiro semestre do ano passado, só 3.555 foram tratadas. Na avaliação de especialistas e pessoas ligadas a entidades indígenas, a situação tem como vetores principais a invasão de garimpeiros ilegais, que envenenam os rios com mercúrio, e a degradação contínua no atendimento de saúde para essa população.
Na última sexta-feira (20), o Ministério da Saúde decretou estado de emergência e o Ministério da Justiça, que a Polícia Federal investigue o crime de genocídio contra o povo indígena.
A situação já levou à morte 570 crianças nos últimos anos, sendo que 505 tinham menos de 1 ano. destas, um terço morreu de pneumonia. No ano de 2022, foram registrados 11.530 casos confirmados de malária na terra Yanomami.
“A malária teve uma expansão enorme nos últimos anos, e quando você observa os dados históricos das regiões hoje afetadas pelo garimpo, você percebe claramente essa interferência”, afirma o geógrafo e analista do Instituto Socioambiental, Estêvão Benfica.
Segundo o pesquisador, uma doença simples e facilmente tratável “começa a evoluir para quadros complexos”. “Uma gripe em uma criança evolui para uma pneumonia e aí essa criança, que poderia ser tratada pela atenção primária com assistência do posto de saúde, obrigatoriamente vai ter que ser removida para um tratamento de média ou alta complexidade em Boa Vista”, disse.
Com a falta de assistência, a PF e o Ministério Público Federal fizeram uma operação em novembro para combater suposto desvio de recursos públicos destinados à compra de medicamentos para os yanomamis. Segundo a operação Yoasi, as supostas fraudes resultaram na retenção de remédios como vermífugos, que deixaram cerca de 10.193 crianças desassistidas.
De acordo com o MPF, 52% das crianças yanomamis estavam desnutridas no fim de 2022, índice que em comunidades de difícil acesso chegava a 80%.
Em agosto de 2020, durante a pandemia de Covid-19, Bolsonaro atendeu a pedido da então ministra de Direitos Humanos, Mulheres e Família, Damares Alves (Republicanos), para vetar o projeto de lei que previa medidas de proteção para comunidades indígenas.
Na época, Damares alegou que “os povos indígenas, quilombolas e demais povos tradicionais não foram diretamente consultados pelo Congresso Nacional”.