Governo Bolsonaro foi informado do fechamento de posto de saúde na terra Yanomami

Atualizado em 23 de janeiro de 2023 às 20:45
Vista aérea da aldeia Xihopi, Terra Indígena Yanomami. Foto: Christian Braga/

Um ofício de um chefe de divisão e de um coordenador de saúde indígena na terra Yanomami, durante o governo de Jair Bolsonaro (PL), aponta que garimpeiros ilegais tomaram uma Unidade Básica de Saúde Indígena. O cerco impediu voos de equipes de saúde e fechou o posto ainda em novembro de 2021. Com informações da Folha de S.Paulo.

Segundo denúncia do presidente do Conselho Distrital de Saúde Indígena dos Yanomami e Ye’kuana, Júnior Yanomami, a unidade foi incendiada pelos garimpeiros em dezembro do ano passado.

O conteúdo do ofício do chefe da Divisão de Atenção à Saúde Indígena e do coordenador distrital é reproduzido na decisão judicial de maio de 2022, quando a Justiça Federal em Roraima determinou que o governo Bolsonaro usasse a Força Nacional de Segurança Pública para garantir a reabertura da unidade básica de saúde de Homoxi, de forma que o Ministério da Saúde retomasse o atendimento na região. O documento não cita os nomes dos servidores, que dão detalhes de uma visita técnica feita à unidade.

Diversos fatores impediam a reabertura do posto de saúde, segundo o ofício. “Já na chegada ao polo qualquer um se espantaria com a cena, a UBSI está cercada por invasores, não existe mais disfarce que tem garimpeiros no local, uma vez que estão morando ao redor da unidade”, cita o documento.

“É assustador ver o avanço de maquinários para a extração, tanto manual quanto mecanizado. Mais assustador ainda é poder identificar que existe uma população de garimpeiros que deve estar se aproximando a mil pessoas”, dizem os coordenadores de saúde.

De acordo com estimativas de associações indígenas, a quantidade de garimpeiros na terra yanomami explodiu na gestão passada e ultrapassa 20 mil invasores.

Conforme relato de profissionais, a pista da unidade básica de saúde passou a ficar inoperante para pousos e decolagens para o transporte de pacientes e equipes médicas. A empresa que prestava esse serviço ao Ministério da Saúde passou a sofrer ameaças, como consta no ofício.

“Essa situação causa diversos prejuízos, como falta de assistência para aqueles que realmente precisam, inviabilizando a chegada de insumos, além de outros fatores maléficos que envolvem os nossos colaboradores, colocando-os em risco, expostos e vulneráveis”, afirma o ofício. “O avanço da extração de minério nas redondezas está devastando a floresta e poluindo o rio. O posto corre risco de erosão no local onde se encontra localizado no polo”, dizem os coordenadores no documento.

Segundo eles, não havia nenhuma condição de permanência de equipes de saúde no local pois “a casa apresenta infestação de morcegos, fezes de diversos animais, além da água contaminada, imprópria para consumo humano e em consequência da garimpagem”.

Há ainda a comprovação de que profissionais de saúde sofriam pressão de garimpeiros em outras comunidades. Os invasores pressionavam por atendimento médico e medicamentos, “utilizando a manipulação indígena, fazendo que eles se tornem seus aliados para fazer parte da equipe operacional e gerando conflitos dentro das comunidades”.

“A invasão do garimpo fez com que uma grande maioria de indígenas se deslocasse, abandonando suas comunidades de origem e se readequando à realidade dos garimpeiros. Nesse cenário, é impossível, desumano, além de arriscado, expor nossos colaboradores ao perigo.”

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