Publicado originalmente no “Blog do Moisés Mendes”
Milhares de brasileiros foram equiparados ontem pelo Facebook aos bandidos que disseminam fake news e algumas vezes, só algumas, são contidos pelas redes sociais.
Eu sou um desses tratados como criminosos por publicar fotos de yanomamis nus, em meio às denúncias sobre a matança de crianças, mulheres e idosos que vinha sendo comandada por Bolsonaro e seus cúmplices.
Essa foto, cujo autor não consegui identificar, foi retirada do Instagram Stories ontem à tarde por decisão compulsória dos controles moralistas da rede social, que pertence ao Facebook e à Meta.
Publiquei a foto do menino e menos de um minuto depois estava fora do ar, por ferir as regras deles.
A foto é considerada imoral pela tara dos robôs do Facebook, do Instagram e de todo o resto.
Esse é o aviso que está no meu perfil e vou ler por três dias:
“Suas publicações anteriores não seguiram nossos Padrões da Comunidade, portanto, você não pode fazer coisas como publicar nem comentar. Sua publicação não seguiu nossos Padrões da Comunidade sobre nudez ou atividade sexual”.
O Facebook é a Damares da Internet. Na maluquice da irrealidade brasileira, a rede aplica ganchos em quem publica fotos de crianças yanomamis peladas.
Povos que andam nus não podem aparecer nus no Facebook, porque é imoral.
A realidade do Facebook é outra. É a realidade das fake news do fascismo, que eles toleram e às vezes fingem punir.
No ano passado eu fiquei dias fora do ar por ter publicado esta foto de crianças indígenas nuas. Esse grupo também foi censurado, talvez porque apareça a bunda de uma criança.
As TVs, incluindo a Globo (e no Fantástico!!!), divulgam a todo momento imagens de crianças indígenas nuas, mas o Facebook não pode.
Essa imagem censurada, desse grupo de crianças e adultos, foi tirada de um vídeo que a Globo divulga há meses no Jornal Nacional. Mas para o Facebook a imagem sugere sexo grupal.
Agora, também as imagens de yanomamis famintos são consideradas inadequadas. Não tem desculpa de que a mordaça é coisa de robô.
Eu e todos os censurados sabemos que é assim que funciona. Mas eu não tinha percebido o tico do gurizinho na foto lá do alto.
Quando fui advertido e cancelado, depois de publicar a foto nos stories, tentei identificar o que havia provocado a censura. E lá estava, quase invisível, o tiquinho do menino.
O argumento imbecil é o de que imagens assim podem induzir à pedofilia. É um argumento canalha, que desconsidera o contexto em que o assunto é abordado. Na TV aberta não induz?
O Facebook finge controlar as mentiras que a extrema direita publica, porque o fascismo é o garantidor da sua audiência.
E agora censura yanomamis famintos, que o mundo todo está vendo, porque é uma nudez que precisa ser castigada.
O Facebook não pune quem se solidariza com os povos da floresta. Pune as crianças massacradas. E poupa os fascistas que andam bem vestidos.