O genocídio do povo Yanomami conecta o Brasil com as mais bárbaras e atrozes experiências de extermínio de seres humanos da história da humanidade.
Impossível não associar aqueles corpos esqueléticos, de crianças e adultos com os ossos à mostra e a vida por um fiapo, com as vítimas do horror nazista exterminadas em campos de concentração.
Descobrimos, tragicamente, que Auschwitz nos é familiar.
O genocídio dos yanomamis não se deu por negligência ou incompetência governamental, o que por si só já seria gravíssimo. Foi um processo deliberado e metodicamente planejado como política de Estado levada a cabo pelo governo fascista-militar.
A invasão de terras indígenas era parte do modelo econômico ilegal, criminoso e destrutivo induzido pelo próprio Estado.
O ministro da Justiça Flávio Dino entende que “os reiterados pedidos de ajuda contra a violência decorrente do garimpo ilegal, bem como a ausência de efetivas ações e serviços de saúde à disposição dos Yanomami frisam possível intenção de causar lesão grave à integridade ou mesmo provocar a extinção do referido grupo originário”.
Assim como os yanomamis, o indigenista brasileiro Bruno Pereira e o jornalista inglês Dom Philips foram assassinados por este sistema criminoso apoiado pelo Estado.
Não se tratava apenas de omissão, mas da facilitação estatal para permitir que a tragédia continuasse até o extermínio total dos yanomamis.
Prova assombrosa disso é a negativa do Exército em viabilizar o deslocamento aéreo de uma comitiva de parlamentares à área Yanomami em maio de 2022.
Na ocasião, o general Francisco Humberto Montenegro Júnior, então chefe de gabinete do Comandante do Exército, justificou a proposital má vontade devido à “restrição dos meios aéreos disponíveis na região amazônica”.
Não deixa de ser uma justificativa cínica de uma instituição que já usou helicóptero do Exército até para levar uma revista Playboy ao general-conspirador Villas Bôas na selva amazônica.
A recente descoberta desta catástrofe humanitária surpreende pela gravidade em si, mas é também alarmante porque evidencia que ainda não temos a dimensão real do horror, da devastação e da tragédia causada pelo governo fascista-militar.
É fundamental haver julgamento e punição dos agentes bolsonaristas pelos crimes contra a humanidade e de genocídio nos tribunais brasileiros e internacionais.
O Estado precisa reparar o povo Yanomami e restituir a ele suas terras livres de garimpo, agropecuária, extrativismo e outras práticas econômicas criminosas.
O extermínio do povo Yanomami coloca o Brasil diante do dever incontornável de promover uma justiça de transição. A restauração da democracia pós-fascismo não estará completada sem que o país se reencontre com a verdade, a justiça e a reparação.
Publicado originalmente no Blog do autor