A reunião entre Jair Bolsonaro, Marcos do Val e Daniel Silveira, a criação da minuta golpista e sua live de despedida mostram que existiu uma fracassada conspiração antidemocrática no governo do ex-presidente. O início da articulação ocorreu em 19 de novembro, quando Walter Braga Netto, ex-candidato a vice-presidente, pediu a apoiadores de Bolsonaro que “não perdessem a fé”. A linha do tempo foi publicada em O Globo.
A declaração do general deixou a base bolsonarista esperançosa com um possível golpe. A fala foi entendida nas redes de apoiadores do ex-presidente como um recado para que os bolsonaristas não deixassem as portas de quarteis do Exército. “Vocês não percam a fé, é só o que eu posso falar para vocês agora”, afirmou Braga Netto na ocasião.
Na primeira semana de dezembro, a minuta golpista que viria a ser encontrada na casa do ex-ministro da Justiça Anderson Torres começou a ser redigida. O texto tinha o objetivo de reverter o resultado da eleição por meio de uma tresloucada intervenção na Justiça Eleitoral. No dia 7 daqueles mês, Silveira teria procurado do Val para marcar a reunião que aconteceria dois dias depois.
Na data da reunião, 9 de dezembro, o ex-presidente fez um discurso a apoiadores, pedindo que eles se mantivessem esperançosos e aguardassem o “momento oportuno”. Pouco depois, ele teria recebido Silveira e do Val e pedido ao senador que gravasse uma conversa com Alexandre de Moraes até obter uma declaração comprometedora.
No dia seguinte, Silveira enviou uma série de mensagens ao senador cobrando uma resposta ao pedido de Bolsonaro.
Em 12 de dezembro, do Val procurou Moraes o magistrado para relatar o pedido feito no encontro com o então presidente. No mesmo dia, bolsonaristas tentaram invadir a sede da Polícia Federal em Brasília para resgatar o cacique Serere.
Dois dias depois (14), o senador se reuniu com Moraes no salão branco do STF e contou sobre o pedido de Bolsonaro. Pouco depois, ele disse a Silveira que não faria parte do plano do então presidente.
Pouco mais de duas semanas depois, Bolsonaro fez seu último pronunciamento no cargo de presidente. Na transmissão de despedida, ele disse a seus apoiadores que não teve apoio para tomar uma atitude e admitiu que o golpe fracassou.
“Agora, muitas vezes, dentro das quatro linhas, você tem que ter apoios. Alguns acham que é “pega a Bic, assine, faça isso, faça aquilo” e está tudo resolvido. Eu entendo que eu fiz a minha parte, estou fazendo até hoje a minha parte. Estou fazendo até hoje a minha parte. Hoje são 30 de dezembro. Até hoje eu fiz a minha parte dentro das quatro linhas. Agora, certas medidas têm que ter apoio do Parlamento, de alguns do Supremo, de outros órgãos, de outras instituições”, declarou na ocasião.