Conheça a história do maior vigarista americano, que ganhou milhões jogando cartas, sinuca e golfe
O pôquer, um século atrás, era um jogo completamente diferente daquele que conhecemos hoje. Se o Texas Hold’em e o Omaha são agora, de longe, as modalidades mais populares, naquela época jogava-se o 5 Card Draw e o 5 Card Stud – conhecidos no Brasil como ”Pôquer Fechado” e “Stick Pôquer”, respectivamente.
E sabe aquelas situações em que alguém aposta 70 reais, você só tem 50 reais e, então, vai para o all in? Esqueça isso. Muitas mesas adotavam as western rules, as “regras do oeste”. Ou seja, o cacife não limitava-se às fichas que cada jogador possuía em cima da mesa, mas sim à profundidade de seus bolsos. O sujeito apostou 3.000 reais e você só tem 1.000 reais em ficha? Corra ao caixa eletrônico ou ponha a chave da moto na mesa. Senão, vai ter que largar as cartas. Mesmo que sejam quatro ases.
Foi neste período em que viveu o americano Alvin Clarence Thomas (1892-1974), mais conhecido pelo seu nome artístico de Titanic Thompson, um dos maiores apostadores e vigaristas da história dos Estados Unidos.
A origem de seu apelido é interessante. Na primavera de 1912, mesmo ano em que o transatlântico Titanic afundou, matando 1 517 pessoas, Alvin estava jogando sinuca num clube em Joplin, Missouri. Depois de ganhar 500 dólares de um parceiro chamado Snow Clark – valor que hoje seria o equivalente a 11 mil dólares –, Alvin deu a ele a chance de recuperar o dinheiro. “Apostei 500 dólares que eu poderia pular a mesa de sinuca sem enconstar nela”, escreveu Alvin numa crônica publicada na revista Sports Illustrated, em 1972. “Coloquei um velho colchão do outro lado da mesa, corri e mergulhei. Enquanto eu contava o dinheiro, alguém perguntou a Clark qual era o meu nome. ‘Deve ser Titanic’, Clark respondeu. ‘Ele afunda todo mundo.’ Desde então, ficou Titanic.”
Segundo o seu biógrafo, Kevin Cook, autor de Titanic Thompson: O Homem que Apostava em Tudo, ele ganhou e perdeu milhões de dólares jogando cartas, dados, sinuca e golfe. Quando Titanic derrotava alguém no golfe, oferecia ao perdedor a chance de recuperar o seu dinheiro numa revanche – desta vez, Titanic jogando com a mão esquerda. Naturalmente, era ambidestro. “Ele gostava de suas mulheres jovens e bonitas, seus carros grandes e velozes, seus patos ricos e ingênuos”, escreveu Cook.
O pôquer era uma das atividades preferidas de Titanic. Segundo Cook, ele calculava como um computador as probabilidades do jogo. Além disso, “trapaceava e marcava cartas com uma habilidade inacreditável”. Gângsters como Al Capone e Arnold Rothstein, e grandes jogadores como Doyle Brunson, Johnny Moss e Amarillo Slim, foram algumas das personalidades que se sentaram à mesa com Titanic.
Em 1928, ele esteve envolvido no high stakes que resultaria na morte de Arnold Rothstein, o chefe do crime de Nova York. Segundo a lenda, Rothstein perdeu 320 mil dólares numa maratona de três dias de jogo. (Em valores atualizados, cerca de 4 milhões de dólares.) No entanto, recusou-se a pagar a dívida, alegando que o jogo fora armado. E bem, realmente, fora por Titanic e seus comparsas. Mas isso não interessava. A honra da época ditava que, se você fosse roubado no jogo e não pegasse o vigarista no ato, então era um pato e merecia perder mesmo. Pouco tempo depois, Rothstein seria assassinado pelo episódio.
A passagem mais interessante do encontro entre Titanic e Al Capone – o mais temido criminoso dos Estados Unidos naquele momento – deu-se após um jogo de pôquer, na década de 1920. Ao sair de uma partida, já de manhã, os dois caminhavam juntos em direção ao carro de “Scarface” Al. Quando passaram por uma barraca de frutas, Titanic comprou um limão e veio com a proposta: “Aposto 500 dólares que consigo arremesar um limão por cima do telhado daquele hotel.” Al Capone aceitou o desafio.
“Mas espere um segundo”, disse o gângster. Ele comprou um novo limão, espremeu e, sorrindo, passou-o a Titanic. “Jogue este.” Titanic não esperava por isso. O limão que ele comprara estava recheado de balas de revólver; combinara o golpe com o quitandeiro no dia anterior. A solução foi improvisar. Titanic tomou distância, correu e arremessou. Mas não jogou o limão espremido de Al Capone – o qual ficou segurando na palma da sua grande mão –e sim o pesado. Enquanto os dois observavam o limão voar por cima do hotel, Al Capone assobiou e disse: “Você é um filho da mãe versátil…” Abriu a carteira, então, e passou os 500 dólares justos para Titanic.