As boas perspectivas da esquerda para reconquistar Porto Alegre em 2024. Por Jeferson Miola

Atualizado em 11 de fevereiro de 2023 às 21:30
Ato da esquerda lota ruas de Porto Alegre. (Imagem: Reprodução)

A eleição para a Prefeitura de Porto Alegre em 2004 foi uma espécie de rampa de lançamento da contraofensiva da oligarquia gaúcha para interromper a continuidade dos 16 anos de governos da Frente Popular liderados pelo PT.

Derrotar o longo ciclo de uma das principais experiências progressistas do país, precisamente aquela que ganhou enorme projeção mundial e produziu referências inovadoras de gestão democrática e popular, se tornou a prioridade central da vanguarda do atraso na época.

Além de interromper a continuidade dos governos do PT e da esquerda, a vitória conservadora em 2004 foi um marco da coesão e unidade de classe – que dura até hoje – dos setores dominantes para a repartição entre si da renda e da riqueza pública gerada na cidade.

As fórmulas para drenar recursos públicos para os bolsos do setor privado são as de sempre: terceirização generalizada, desmonte de serviços, programas e políticas sociais; transferência de obrigações públicas para exploração por grupos privados e, jóia da coroa, as privatizações – tanto de empresas municipais, como de serviços, parques, áreas e espaços públicos.

Porto Alegre, que já foi referência mundial em políticas de igualdade e participação popular, afirmação de direitos, orçamento participativo e desenvolvimento com justiça social, hoje é um laboratório de retrocessos e contrarreformas neoliberais e antipopulares.

O bloco conservador que controla a cidade há 18 anos une a mídia hegemônica, setores de serviços, imobiliário e financeiro, empresariado, classe média reacionária e o espectro partidário que abarca da centro-direita à extrema-direita.

A rotina de eleição a cada quatro anos até provoca revezamento dos prefeitos conservadores que vão ocupar o Paço Municipal, mas não interrompe a gestão conservadora e ultraliberal da cidade. Há continuidade programática.

Recuperar Porto Alegre desde a perspectiva democrática e popular e interromper o ciclo de 20 anos de devastação neoliberal deve ser a prioridade central da esquerda e do campo progressista na eleição de 2024.

Para isso, é preciso enfrentar a coesão monolítica do bloco dominante com uma unidade e coesão ainda mais eficaz do campo democrático-popular.

A Federação PT/PCdoB/PV, juntamente com o PSOL e a Unidade Popular, é o dínamo para a construção desta unidade do campo de esquerda e progressista que deve tentar atrair, também, partidos de origem popular que integram o ministério do governo Lula, como o PDT e o PSB.

Na eleição municipal de 2020 e na estadual/nacional de 2022 a esquerda se empenhou de forma inédita na construção da unidade. E colheu resultados promissores com este esforço.

Na Câmara Municipal, a Federação PT/PCdoB/PV e o PSOL formam uma bancada de 10 vereadores/as. Com o PDT e o PSB, a representação do campo identificado com o governo Lula sobe para 13 vereadores – quórum capaz de impedir, por exemplo, retrocessos na Lei Orgânica pelo atual governo de extrema-direita.

Na Assembléia Legislativa, sete deputados/as de esquerda com base eleitoral em Porto Alegre foram eleitos/as em outubro passado, ao passo que o bloco de sustentação do atual prefeito elegeu quatro deputados estaduais com atuação política prioritária na cidade. [i]

Para a Câmara Federal, foram eleitas quatro deputadas de esquerda com base eleitoral em Porto Alegre em 2022, contra três parlamentares do campo conservador. [ii]

A eleição majoritária de 2022 também confirma a recuperação da simpatia pela esquerda e reforça a perspectiva de retomada da hegemonia popular em Porto Alegre. Edegar Pretto/PT fez 32,3% dos votos no primeiro turno na cidade, ficando praticamente empatado com o governador eleito, que conquistou 32,8% dos votos na capital.

Na disputa pelo Senado, Olívio fez 49,25% dos votos dos/das porto-alegrenses, uma votação superior à soma das duas principais candidaturas concorrentes. E Lula venceu Bolsonaro com 49,8% dos votos de Porto Alegre no primeiro turno e 53,5% no segundo.

Com o governo Lula, que alavanca as possibilidades da esquerda em Porto Alegre, teremos a reconstrução do país e políticas para superar a barbárie legada pelo governo fascista-militar apoiado pelo atual prefeito da cidade e provável candidato à reeleição.

A perspectiva da esquerda para a eleição de 2024 em Porto Alegre é a melhor nas duas últimas décadas, e é preciso aproveitá-la plenamente.

A esquerda está desafiada a instalar desde logo um processo político aberto, de agenciamento de todos ativismos partidários e sociais; de articulação das militâncias progressistas e de esquerda, das organizações populares, religiosas e sindicais, da intelectualidade crítica e setores médios comprometidos com a luta feminista, libertária, antirracista, antifascista e antineoliberal.

É fundamental se construir um diagnóstico sobre a devastação conservadora e neoliberal em 20 anos de gestão antipopular para sensibilizar a consciência do povo de Porto Alegre sobre as alternativas superiores, em todos os planos, defendidas pela esquerda e pelo progressismo.

Com 10 vereadores/as na cidade, 11 deputados/as estaduais e federais com base eleitoral em Porto Alegre e mais os avanços sociais, culturais, ambientais e econômicos propiciados pelo governo Lula, a esquerda tem chances reais de vencer em 2024 e reverter a devastação de 20 anos de governos neoliberais e conservadores.

Publicado originalmente no blog do Jeferson Miola

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