O Centro Nacional de Monitoramento e Alertas de Desastres Naturais (Cemaden) afirmou que o Governo do Estado de São Paulo e a Prefeitura de São Sebastião já haviam sido alertados, com dois dias de antecedência, sobre o risco de desastre na cidade por causa dos fortes temporais. A notificação do órgão citava a Vila do Sahy, cenário da morte de mais de 30 pessoas e dezenas de desaparecimentos.
Habitantes da região do litoral norte de SP relataram, porém, que não foram alertados pela Defesa Civil e nem por ninguém. Segundo os moradores, não houve nenhum pedido para que eles deixassem suas casas mesmo diante do alto perigo de deslizamentos.
O risco emitido pela entidade no fim de semana era classificado como “muito alto”, o que significa a iminência de um desastre. “Nós conseguimos fazer a previsão com 48 horas de antecedência, inclusive, dando a localização do desastre”, declarou Osvaldo Luiz Leal de Moraes, o diretor do Cemaden, em entrevista ao G1.
O Cemaden, que é um órgão federal, é o núcleo responsável pela prevenção e gerenciamento da atuação do governo sobre eventuais desastres naturais ocorridos em território brasileiro. A entidade opera sem interrupção monitorando as áreas de risco, em especial, os municípios classificados como vulneráveis a desastres naturais.
Por outro lado, a Defesa Civil Estadual, por meio de uma nota oficial, disse que o risco foi divulgado na imprensa e redes sociais e por mensagens de SMS no celular das pessoas cadastradas em seu sistema em todo o Litoral Norte. Ainda assim, as mensagens não revelam a proporção do risco e nem todos habitantes possuem cadastro.
Além disso, a Defesa Civil da cidade de São Sebastião, ao contrário da estadual, não fez publicações alertando sobre o risco. Nos canais da prefeitura, não foram republicados os avisos vindos do estado ou do Cemaden. Os moradores relatam que não receberam qualquer alerta para deixar suas casas ou que avisassem de um risco de desastre. Alguns confirmaram ter recebido um aviso, mas de uma chuva menor do que a que ocorreu.
Nos canais de comunicação e nas redes sociais da prefeitura, que é responsável pela Defesa Civil municipal, não foi feita nenhuma publicação com o aviso de risco. A última mensagem sobre chuva havia sido feita no dia 15 de fevereiro, antes do alerta de risco do Cemaden, apenas com uma foto e contatos da Defesa Civil.
Segundo o G1, assim como todo o estado de São Paulo, a região litorânea não tem sirenes nas áreas de risco que poderiam avisar as pessoas para evacuar a área. Portanto, a população de São Sebastião e, especificamente, da Vila do Sahy, dependiam do aviso da Defesa Civil municipal e estadual, o que não aconteceu.
“A Defesa Civil manda os alertas sempre, mas não nessa gravidade toda. Disseram que eram 200 milímetros, mas 200 milímetros a gente vem pegando o ano todo. Não teve nenhum toque de evacuar, nada, nada, nada”, revelou um morador. Uma outra pessoa, que preferiu não ser identificada, contou que a decisão de não divulgar o comunicado seria pelo risco de afastar o turista da cidade no carnaval.
Segundo um levantamento feito pela Defesa Civil, foram contabilizadas até agora 48 mortes, sendo 47 em São Sebastião e uma em Ubatuba, uma das cidades vizinhas. Além disso, mais de 50 pessoas estão desaparecidas. Os danos dos deslizamentos ainda não foram calculados.