Sobre o voto brasileiro na ONU, contra a invasão da Ucrânia e a favor da paz. Por Igor Fuser

Atualizado em 27 de fevereiro de 2023 às 13:49
Votação na sede das Nações Unidas em Nova York
Foto: Reprodução

O compromisso do governo brasileiro com a democracia exige coerência. Um país democrático não pode endossar a ideia cínica de que é legitimo resolver as divergências internacionais pela violência, pela lei do mais forte (a força das armas, não da razão), como fez a Rússia ao invadir a Ucrânia, um ano atrás, violando todas as normas e valores do sistema internacional.

Os EUA já cometeram crimes semelhantes muitas e muitas vezes, inclusive em ocasiões recentes, como, entre outras, na intervenção encoberta na Nicarágua (década de 1980), e nas invasões de Granada (1983), Panamá (1990), Iugoslávia/Sérvia (1998/1999), Iraque (2003) e Líbia (2012), além das infames sanções econômicas contra Cuba, Venezuela, Irã e vários outros países. Mas essas agressões do imperialismo estadunidense não dão à Rússia nem a qualquer outro país o falso direito de cometer atrocidades, de violar as normas internacionais e invadir um país vizinho, causando centenas de milhares de mortes e destruição em escala inimaginável, sem ter sofrido qualquer ameaça ou agressão prévia que pudesse justificar essa conduta.

O governo Lula votou corretamente na ONU, e de acordo com a nossa Constituição, que defende a solução pacífica dos conflitos, a integridade territorial dos países e o respeito à sua soberania e à auto-determinação dos povos. Estou com Lula.

Junto com o Brasil votaram outros 140 países, entre eles a Argentina, o México, a Colômbia e o Chile, que fazem parte do grupo das nações latino-americanas com governos progressistas. Apenas 7 países votaram contra a resolução aprovada e 32 se abstiveram de condenar a Rússia pela invasão da Ucrânia e anexação ilegal de uma parcela do território ucraniano. Todos os países do Mercosul votaram da mesma maneira.

O Brasil, com esse voto, permanece como um ator internacional habilitado ao papel de mediador, juntamente com outros países, já que a abstenção significou, nesse caso específico, um voto favorável à Rússia.

A posição de Lula, de enfatizar a necessidade da paz imediata, ao mesmo tempo em que reconhece o direito de a Ucrânia se defender das forças militares agressoras, expressa a política brasileira de não-alinhamento diante da “nova guerra fria” que está se gestando no mundo — um caminho irracional que só causará miséria, morte e sofrimento, pondo em risco a própria sobrevivência humana.

Nosso governo não deve estar a reboque dos EUA, nem da China, nem da Rússia e nem da Europa, não deve aderir a nenhuma política de blocos ou “campos” geopolíticos, mas sim defender acima de tudo os legítimos interesses do povo brasileiro, com base nos valores da paz, da justiça, da democracia, dos direitos humanos e do respeito às instituições internacionais. Contra todos os tipos de militarismo, violência e imperialismo.

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