Uma sugestão para que os nomes das vinícolas de Bento Gonçalves apareçam menos nas notícias sobre o caso da escravidão de nordestinos.
As marcas estão há uma semana em chamadas de capa dos jornais de todo o Brasil. Mas os nomes dos responsáveis pelos contratos escravistas não aparecem.
É só trocar os nomes das marcas pelos nomes dos dirigentes das empresas. Eles sabiam o que estava acontecendo, ou não estavam gerindo as organizações.
Muitos sabiam o que acontecia em Bento, dentro e fora das empresas. Muita gente sabia.
Como já fui morador de Bento, conversei com moradores por telefone na semana passada, logo depois da denúncia.
Um deles me disse: “Todo mundo sabia disso há mais de 10 anos, e uma hora iria estourar”.
A presidente da Comissão Permanente de Cidadania e Direitos Humanos da Assembleia Legislativa do Rio Grande do Sul, deputada Laura Sito (PT), ouviu algo parecido quando esteve na cidade no sábado.
Moradores do entorno do alojamento disseram à deputada que sabiam da situação nos alojamentos e já haviam feito denúncias à polícia.
O sistema de exploração de mão-de-obra de fora é antigo. E sabe-se que órgãos de fiscalização falharam ao não tratar as denúncias e os crimes como deviam.
Só há uma saída. Identificar os culpados. Marcas não são culpadas de nada. Mas estão sendo manchadas por gente até agora protegida.
A grande imprensa protege os responsáveis pelos contratos. Jornalistas amigos protegem, nas redes sociais, os conhecidos ameaçados e tentam desqualificar as críticas às empresas.
Repete-se agora o argumento cansativo de que não se pode generalizar. É uma frase vazia. Claro que ninguém pretende generalizar. Claro que ninguém quer o prejuízo de trabalhadores e agricultores.
Mas é cínica a conversa de que as denúncias prejudicam mais as empresas do que seus dirigentes e o intermediário gato que contratava os trabalhadores na Bahia.
Não há como tratar do caso sem citar as empresas, até porque os responsáveis não aparecem.
Por isso os jornalistas amigos devem se esforçar para que as marcas sejam retiradas do noticiário.
Se os jornalistas protetores de possíveis criminosos continuarem com a conversinha do parem-com-isso, as marcas serão sempre as mais expostas e prejudicadas.
Se os agricultores não exigirem a demissão dos diretores, se a cidade não se mobilizar, se as lideranças não cobrarem, as marcas Aurora, Garibaldi e Salton vão ficar com a conta.
Quem, além do gato que trouxe 200 baianos para Bento, ganhou dinheiro com esses contratos?
Empresas do setor, que sofreram concorrência desleal dos três grupos acusados, não vão se manifestar através das entidades que as representam?
Quem vai se encarregar da investigação que pode apontar mais do que omissão de autoridades policiais e do município?
O que o Ministério Público tem a dizer sobre omissões e cumplicidades?
Qual o envolvimento de 23 propriedades rurais que estão na lista de usuárias da mão-de-obra escravizada? Por que os trabalhadores em baianos?
Se as respostas não aparecerem, apenas a cidade e as marcas continuarão frequentando as notícias.
Jornalistas amigos dos diretores das vinícolas de Bento podem ajudar.
Originalmente publicado em Blog do Moisés Mendes
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