Thomas Piketty estaria frito se tivesse nascido no Brasil.
Que economista com ideias parecidas com as suas recebe qualquer destaque da mídia?
Ele estaria condenado às sombras, ao mais espesso anonimato.
Teria que se contentar em ver, do seu cantinho humilde, os holofotes projetados em economistas e comentaristas econômicos como Rodrigo Constantino, Míriam Leitão e Carlos Alberto Sardenberg.
Piketty jamais seria o que é hoje: uma referência para todos os homens públicos dos países desenvolvidos.
No Brasil, a mídia esconde quem fala as coisas que ela fala e defende as causas que ele defende.
Os “especialistas” em economia que aparecem na mídia nacional criaram “consensos” que Piketty simplesmente atropela.
Na questão dos impostos, por exemplo.
Quem acredita no que jornais e revistas divulgam tem certeza de que a carga tributária brasileira é uma das maiores do mundo, e que cortando os impostos vamos crescer aceleradamente.
Piketty diz coisas bem diferentes nesse campo. Ele lembra que não existe caso de país que tivesse florescido com uma carga de impostos na faixa de 20%, o sonho dos Constantinos.
Lembra, também, que temos no Brasil uma taxa de imposto de herança ridiculamente baixa: coisa de 4%.
Nos Estados Unidos e na Europa, é dez vezes mais.
Isso sim promove meritocracia, uma palavra tão malempregada por Aécio. Existe um mérito inegável no empreendedor que monta um negócio de sucesso.
Mas qual o mérito de seu herdeiro?
São coisas bem distintas, e uma taxação justa da herança é um estímulo à meritocracia.
Piketty nota também o absurdo que é o imposto regressivo que vigora no Brasil. O porteiro da Globo e Roberto Irineu Marinho são igualmente taxados na taxa que pagam para comprar o leite que bebem e o pão que comem.
Um sistema progressivo é a resposta a essa injustiça fiscal. No bolo da arrecadação, contribui mais quem ganha mais.
Alguém consegue imaginar Piketty, caso fosse brasileiro, falando disso na Globonews, ou na CBN, ou na Veja, ou no Estadão?
Em compensação, os Constantinos e as Mírians são ubíquos. Estão em toda parte, o tempo inteiro.
Uma amostra do fim que ele teria no Brasil foi fornecida nestes dias em que ele veio a São Paulo lançar seu livro, um extraordinário sucesso mundial.
Numa nota pequena, o site do Globo conseguiu dar como título de um debate do qual ele participou o seguinte: “Piketty desafia o socialismo.”
A melhor cobertura, como tem ocorrido com certa frequência, foi feita pela BBC Brasil. Para financiar educação, dizia ele na entrevista, é preciso taxar os ricos.
Não é só a mídia que foge desta ideia: para evitar atritos com os ricos, até o governo se refugia na teoria de que o dinheiro do pré-sal resolve o problema.
Somos a terra dos Constantinos com sua esquerda caviar, e dos vaticínios apocalípticos de Míriam Leitão.
Piketty teve sorte de haver nascido na França.