Na tarde desta quarta (8), dezenas de Mulheres Sem Terra se reuniram para realizar um protesto em frente à sede da empresa Salton, na capital paulista.
Com palavras de ordem e intervenções, o coletivo reforçou a denúncia pública contra as vinícolas ligadas à contratação de mão-de-obra análoga à escravidão, de trabalhadores nordestinos resgatados na última semana, em Bento Gonçalves, no Rio Grande do Sul – envolvendo as empresas Salton, Aurora e Garibaldi.
A mobilização integra as atividades da Jornada Nacional de Lutas das Mulheres Sem Terra, que tem como foco principal, as denúncias contra o patriarcado e as diversas violências praticadas por ruralistas do agronegócio.
Entre elas, a denuncia sobre a produção de riquezas para uma seleta elite agrária e multinacionais frente à precarização e escravização da classe trabalhadora, com a superexploração dos recursos naturais, e obtenção de lucro recorde obtido com exportações de suprimentos para commodities. Enquanto a maior parcela da população passa fome ou vive em condição de insegurança alimentar.
Vinícolas batem recorde de lucro com trabalho escravo
As três empresas, Salton, Aurora e Garibaldi, envolvidas com mão-de-obra análoga à escravidão – onde 207 trabalhadores nordestinos foram resgatado – são as maiores do setor no país e vem batendo recordes de lucro.
A Salton, empresa centenária, portadora de uma das vinícolas mais antigas do Brasil, alcançou o maior faturamento de toda sua história, de R$ 500 milhões, em 2022. Já a Aurora também teve faturamento recorde de R$ 756 milhões; e Garibaldi, de R$ 265 milhões, no mesmo período.
Em conjunto, as empresas faturaram cerca de R$ 2 bilhões no último ano. Ou seja, se quer é possível alegar que não possuem estrutura fiscalizatória de seu complexo produtivo, a ponto de negar ciência sobre a condição degradante a qual foram resgatados os trabalhares.
As empresas seguem sendo investigadas após operação conjunta da Polícia Federal, Ministério Público do Trabalho (MPT) e Ministério do Trabalho e Emprego (MTE) no final de fevereiro.
Sendo condenadas, e se for cumprida a Lei, as empresas devem ser punidas com confisco de bens derivados da exploração dos trabalhadores e expropriação de suas terras para fins da Reforma Agrária, sem qualquer indenização ao proprietário e sem prejuízo de outras sanções, orienta a legislação.
Em 2022, 2.575 trabalhadores e trabalhadoras foram resgatados de condições análogas às de escravo. Entre eles, 35 eram crianças e adolescentes. E cerca de 90% dos resgatados estavam sendo explorados em atividades rurais do agronegócio. Com isso, o país atinge mais de 60 mil trabalhadores e trabalhadoras resgatados, desde a criação do sistema de combate à escravidão no Brasil, em operação desde 1995.
Jornada Nacional de Lutas das Mulheres Sem Terra
Março é o mês da Jornada Nacional de Lutas das Mulheres Sem Terra, com mobilizações de caráter massivo, com atos, protestos, solidariedade, ações de formação, diálogo com a sociedade e de enfrentamento por direitos, entoando o lema: “O agronegócio lucra com a fome e a violência. Por Terra e democracia, mulheres em resistência!”.
As atividades ocorrem no Distrito Federal e em 22 estados de todas as grandes regiões do país, nos territórios onde as Mulheres Sem Terra estão mobilizadas, tendo como principais dias de luta, o período entre 6 a 8 de março, marcando o Dia Internacional das Mulheres, em celebração e resistência.
As mobilizações, protagonizadas por Mulheres Sem Terra, têm a perspectiva de enfrentamento e denúncia contra a “fome, a violência e a destruição da natureza”, cruéis facetas do agro-golpe-tóxico-negócio no Brasil.