Após os auditores do fisco apreenderem no aeroporto de Guarulhos as joias dadas de presente a Jair Bolsonaro (PL) e Michelle Bolsonaro pelo governo da Arábia Saudita, a equipe do ex-ministro de Minas e Energia Bento Albuquerque acionou a direção da Receita Federal em Brasília imediatamente para tentar liberar os bens.
Segundo informações do Estadão, Bento Albuquerque ainda estava no aeroporto quando a chefia da Receita, que era comandada pelo então secretário José Tostes, foi acionada pela equipe do então ministro para dizer que havia um problema na alfândega que poderia atrasar a conexão do voo de Bento.
Para tentar resolver o problema, o chefe de gabinete do ex-ministro, o contra- almirante José Roberto Bueno Junior, telefonou para Sandro Serpa, que era subsecretário de Tributação da Receita.
A ligação é um novo elemento para mostrar que integrantes do governo Bolsonaro tentaram pressionar a Receita para liberar as joias destinados à ex-primeira dama, avaliadas em R$ 16,5 milhões.
Em entrevista ao Estadão, Serpa revelou que Bueno disse que havia um “problema em Guarulhos” envolvendo as bagagens da comitiva e se referiu a um “presente” que poderia atrasar a conexão do seu próximo voo para Brasília.
O chefe de gabinete do ex-ministro alegou que não havia auditores para atendimento na alfândega naquele momento, o que Serpa achou estranho, já que os servidores da Receita trabalham sem parar em turnos de 24 horas.
No dia da apreensão das joias, o então subsecretário de Tributação da Receita disse que, após receber a ligação do auxiliar do ministro Bento, entrou em contato com o então superintendente da Receita na 8 ª Região Fiscal de São Paulo, José Roberto Mazarin.
Segundo Serpa, Mazarin retornou a ligação informando que tinha sido feita a apreensão de um conjunto de joias e enviou uma foto das peças.
O ex-subsecretário do Fisco disse que se surpreendeu com a foto e percebeu que a Receita tinha agido corretamente. No dia seguinte, ele comunicou ao então secretário especial da Receita, José Tostes, do ocorrido. A resposta de Tostes foi a de que já “estava sabendo” do que tinha acontecido. Tostes foi dispensado do cargo 37 dias após a apreensão das joias.
Serpa informou que não tratou mais do assunto, porque o tema não era da sua área de atuação na Receita, mas do setor aduaneiro. Ele acredita ter sido o primeiro a ser procurado porque conhecia Bento Albuquerque e José Roberto Bueno quando os três trabalharam na embaixada Brasileira em Washington durante o mesmo período.