A maioria das 2.488 mulheres resgatadas do trabalho análogo à escravidão durante os últimos 20 anos no país são pretas ou pardas, nascidas no Norte ou no Nordeste, analfabetas ou com o ensino básico incompleto. Os dados inéditos são da Divisão de Fiscalização para Erradicação do Trabalho Escravo (Detrae), órgão que integra o Ministério do Trabalho e Previdência (MTP).
Segundo o Detrae, das mulheres resgatadas da escravidão nas últimas duas décadas, 64% são pretas ou pardas, 22% brancas e 11% amarelas.
As mulheres corresponderam a apenas 5% do total de pessoas resgatadas entre 2003 e 2022. Ao G1, a auditora-fiscal do trabalho Jamile Virginio, que integra o Detrae, disse que essa diferença se dá, em parte, porque a atuação do Detrae sobre atividades historicamente ligadas ao gênero feminino é recente.
“Foi somente em 2017 e 2019 que ocorreram os primeiros resgates no trabalho doméstico e no mercado do sexo”, afirmou.
A região que concentrou o maior número de casos foi o Sudeste e a maior parte das vítimas era natural de estados do Norte ou do Nordeste. Os estados que concentraram mais de 80% dos resgates são: Pará (428), Minas Gerais (401), Bahia (278), São Paulo (271), Maranhão (238), Tocantins (166), Goiás (123), e Rio de Janeiro (101).
Em relação aos estudos, 17% das mulheres resgatadas eram analfabetas, 59,6% tinham o ensino fundamental incompleto, 7% o ensino fundamental completo, 6% o ensino médio incompleto, 8% o ensino médio completo.
O Detrae também compilou dados sobre as atividades desenvolvidas pelas resgatadas. As funções desempenhadas na zona rural são as que mais concentram casos, com 70% dos casos relacionados às seguintes ocupações: Agropecuária (1.234); Cultivo de café (175); Cultivo de cana-de-açúcar (138); Pecuária de corte (118); Cultivo de árvores frutíferas (18); e Cultivo de erva-mate (15).