A ligação da deputada que ameaçou Lula com metralhadora com a indústria de armas dos EUA

Atualizado em 5 de junho de 2023 às 13:29
LEGENDA CENSURADA POR ORDEM DA JUSTIÇA APÓS AÇÃO DA DEPUTADA JÚLIA ZANATTA 

Publicado no Seeing Red*

Na gestão  Bolsonaro, o Brasil se tornou uma mina de ouro para a indústria internacional de armas. O Estatuto do Desarmamento, de 2003, foi desmantelado por diversos decretos assinados por Bolsonaro e ações de seus aliados na Câmara e no Senado. Seu objetivo era facilitar o acesso civil a armas de fogo. Uma consequência disso é que a venda de armas disparou no Brasil nos últimos anos.

À medida que a legislação sobre o controle de armas foi alterada, a cultura armamentista também foi reformulada devido a um método sofisticado de influência midiática que mudou a percepção e o comportamento de muitos brasileiros em relação a armas de fogo. O regime de Bolsonaro não reinventou a roda.

Em vez disso, eles entraram em contato com a National Rifle Association (NRA), a maior associação pró-armamentista dos EUA, para aprender como aplicar suas estratégias de marketing, networking e lobby no Brasil. Liderado por Eduardo Bolsonaro, um dos filhos de Jair Bolsonaro, o grupo armamentista Pró-Armas nasceu para ser a versão brasileira da National Rifle Association.

Para entender como o Pró-Armas foi criado, é importante olhar além da ideia de que o armamento civil é simplesmente parte da agenda usual da extrema-direita e de que a posse de armas seria um direito. A pergunta que devemos fazer é cui bono: qual segmento da economia se beneficia mais com a proliferação de armas e como esse segmento está pressionando para mudar a legislação. A mídia brasileira tem negligenciado essa questão.

Apesar da imprensa reconhecer que os Bolsonaros têm fortes laços com a extrema-direita internacional, incluindo personagens como Donald Trump, Steve Bannon e o líder húngaro Viktor Orban, ela ainda não examinou quem está financiando líderes mundiais da extrema direita – e mais ainda: quem está financiando a ligação entre os Bolsonaros e a extrema direita nos EUA É a indústria internacional de armas está financiando direitista no Brasil.

Nossa equipe monitorou as interações em mídias sociais dos filhos de Jair Bolsonaro, Flávio, Carlos e Eduardo, com pessoas ligadas à indústria de armas. Trabalhamos para conectar as pegadas digitais deixadas por eles. Antes das eleições de 2018, eles agiram por baixo dos panos para obter apoio estrangeiro e desmontar o Estatuto do Desarmamento caso Bolsonaro vencesse. Eles conspiraram contra a democracia no Brasil em conjunto com a indústria internacional de armas.

A partir do final de 2015, a família Bolsonaro passou a se relacionar com clubes de tiro nos EUA. Os funcionários da 88 Tactical, com sede em Omaha, Nebraska, facilitaram o contato com a NRA e com a indústria de armas. Mais tarde, eles passaram a ter acesso à família Trump e a Steve Bannon – eles trabalharam juntos para eleger Bolsonaro. Em outubro de 2018, Jair foi eleito presidente. O filho mais velho, Flávio, foi eleito senador e Eduardo foi reeleito deputado federal. Em 2020, Carlos foi reeleito vereador no Rio de Janeiro.

Em uma caçada nos EUA, Eduardo Bolsonaro se autointitulou “Pró-Armas” ao lado do “amigo” Donald Trump Jr.. O Pró-Armas havia sido fundado em junho de 2020 por um advogado ligado à família Bolsonaro chamado Marcos Pollon. Extraoficialmente, porém, o Pró-Armas foi fundado por Eduardo Bolsonaro com a ajuda do NRA

Em junho de 2020, a Pró-Armas foi fundada oficialmente por um advogado chamado Marcos Pollon. Extraoficialmente, porém, foi fundada por Eduardo Bolsonaro com a ajuda da NRA. Com apenas dois anos de existência, o grupo conta com cinqüenta mil membros inscritos e atua no Brasil todo. A associação trabalhou diretamente com parlamentares estaduais e federais para alterar a legislação de controle de armas. Também ajudou a promover e divulgar os clubes de tiro em todo o país.

Em 2022, o Pró-Armas apoiou a candidatura de senadores, governadores e deputados. A maioria deles pertencentes ao Partido Liberal (PL), legenda de Jair Bolsonaro e de dois de seus filhos, Flávio e Eduardo. 38 desses candidatos foram eleitos – Pollon para a Câmara e o ex-vice-presidente general Hamilton Mourão para o Senado. Pelos próximos quatro anos, esses parlamentares tentarão aniquilar o Estatuto do Desarmamento. Glock e Springfield Armory são algumas das fabricantes que apoiam o Pró-Armas – uma prova que a indústria armamentista está financiando a extrema direita no Brasil.

O documentário produzido pela Vice chamado “The Brazilian Pro Gun Activists Inspired by the NRA” traz entrevista da jornalista Leah Varjacques o membro da Pró-Armas Samurai Caçador. Samurai  foi apoiado pelo Pró-Armas quando tentou se eleger deputado estadual por São Paulo em 2022 – ele não foi eleito.

Leah Varjacques entrevistou Samurai Caçador na feira Shot Fair em Joinville em agosto de 2022. A Shot Fair, promovida pela Pró-Armas, é a versão brasileira da Shot Show (feira americana da indústria de armas). A Shot Fair é mais um resultado do sucesso da ligação entre Eduardo Bolsonaro e a NRA.

A deputada Júlia Zanatta posta com fuzil e camiseta com a mão de Lula perfurada por tiros

O documentário também explorou a conexão entre ativistas pró-armas e a tentativa de golpe ocorrida em 8 de janeiro. Leah Varjacques entrevistou George Washington na Shot Fair em agosto. Washington disse a ela que poderia comprar dezenas de armas, pois Bolsonaro abrandou a legislação de controle de armas. Washington foi preso em dezembro após ser acusado de colocar explosivos em um caminhão-tanque no aeroporto de Brasília.

TRECHO CENSURADO POR ORDEM DA JUSTIÇA APÓS AÇÃO DA DEPUTADA JÚLIA ZANATTA 

*Tradução de Charles Nisz