Na última segunda-feira (20), a Folha de S. Paulo divulgou uma extensa reportagem contando os novos passos da ex-primeira-dama do Brasil, Michelle Bolsonaro. E a matéria parecia produzida por uma agência de relações públicas.
A matéria, assinada por Eliane Trindade na coluna “Rede Social” até cita o famigerado escândalo das joias dadas por autoridades da ditadura da Arábia Saudita, mas de uma forma bem leve. O caso não passou de um “inferno astral” do casal, que até dezembro do ano passado foi inquilino (um inquilino que cuidou bem mal da casa, aliás) do Palácio da Alvorada.
O foco da matéria consistia em uma “Michelle 2.0”, de volta ao Brasil, jovem, presidente do PL Mulher e com voos mais altos na carreira política, influenciadora e dona de uma marca de cosméticos em parceria com seu maquiador, o bolsonarista e faz-tudo de Michelle, Agustin Fernandez. A reportagem até citava os detalhes dos produtos, como uma bela propaganda.
Todos sabemos dos planos ambiciosos de Michelle, um arquétipo dos neopentecostais brasileiros: fiscalizadora de costumes alheios, hipócrita, com um histórico de vida pregressa e atual no mínimo, questionável. Considerando todos os atos dela como primeira-dama, essa limpeza de imagem parece ser um tapa na cara de uma pessoa que nem está mais aqui entre nós: a ex-primeira-dama Marisa Letícia.
Em vida, Marisa foi alvo de diversas notícias de cunho falso remetem desde a primeira tentativa de Lula em ser presidente do Brasil, nas eleições de 1989. E a coisa infelizmente escalou após os dois primeiros mandatos dele. Com vistas grossas da imprensa corporativa.
Uma das notícias falsas envolvendo Marisa, aliás, envolvem um fato mentiroso de que a ex-primeira-dama tenha ficado milionária vendendo produtos da empresa de cosméticos Avon. Até a suposta atriz e antiga secretária de Bolsonaro, Regina Duarte, caiu nessa. Mas os grandes veículos não divulgaram o desmentido com o mesmo afinco com que a informação falsa circulou.
O boato ganhou força três anos após a morte de Marisa, em abril de 2020, quando um juiz que analisava o inventário de Marisa pediu esclarecimentos para Lula dizendo que Marisa havia aplicado 256 milhões de reais em investimentos. Portais divulgaram a informação na época. Em grupos, notícias falsas potencializavam a notícia falando que ela recebia dinheiro da Avon.
A hashtag #Avon foi parar de maneira irônica entre as primeiras do Twitter na época. Internautas de extrema-direita diziam que Dona Marisa teria feito a fortuna como consultora da marca.
Um mês depois, foi descoberto que as aplicações bancárias de Dona Marisa eram na verdade de um valor muito, mas muito menor: 26 mil reais. Os portais tiveram de apagar a notícia, mas a Jovem Pan, olha só, manteve a notícia, que teve um pico de acessos durante a campanha eleitoral de 2022.
E isso depois de sua morte. Em vida, Marisa passou por muitas injustiças. De vida muito difícil e viúva com apenas 19 anos quando estava grávida de seu primeiro filho (adotado por Lula), ela foi a companheira dele e costurou a primeira bandeira do Partido dos Trabalhadores.
Ela morreu em 2017 vítima de perseguição. Sofreu um acidente vascular no início daquele ano, após meses sendo permanentemente vigiada pela imprensa e por detratores, após virar ré na Operação Lava-Jato, instrumento de lawfare do qual o hoje senador Sergio Moro usou e abusou para ter ganhos políticos.
Após morrer, Marisa ainda foi chamada de dona da Avon. Nenhuma voz da velha mídia se levantou para contar a verdade. Essa mesma imprensa que dá um banho de perfuma numa fascista.