Pastor-vereador bolsonarista de Curitiba contrata 4 pastores de sua igreja e é acusado de rachadinha pelo MP

Atualizado em 24 de março de 2023 às 11:40
“Fechado com Bolsonaro”: o vereador de Curitiba e candidato derrotado a deputado estadual Pastor Marciano Alves (Solidariedade) transformou seu gabinete em uma sucursal da sua igreja (crédito: divulgação)

O vereador de Curitiba Pastor Marciano Alves (Solidariedade) é um cidadão de bem. Está fechado com Jair Bolsonaro desde 2018, pela liberdade religiosa, pelos valores da família, contra a ideologia de gênero e a cristofobia. Eleito com 4.483 votos, está em seu primeiro mandato. É pastor dirigente das igrejas Visão Missionária e também apresentador do programa Corrente dos Milagres, de segunda à sexta, ao meio-dia, na rádio Tropical Gospel AM.

O Pastor Marciano está sendo acusado pelo Ministério Público do Paraná (MP-PR) de comandar um esquema de rachadinha no gabinete da Câmara Municipal do município. Os promotores investigam ainda a contratação de supostos funcionários fantasmas no gabinete do parlamentar.

Inquérito civil, instaurado no dia 9 de março, aponta que o político nomeou para cargos em seu gabinete nada menos do que quatro pastores da Igreja Visão Missionária, sem que a função desses funcionários esteja clara. Há, ainda, um contador da Igreja Visão Missionária que, segundo o MP, não comparece para prestar serviços na Câmara.

Conforme o documento, os pastores Ivonel Dombroski, Edson Domiciano, Izaías Batista de Lima e Thiago Esteves recebem remuneração por supostamente trabalhar para a administração pública, mas a “natureza das atividades desempenhadas” por eles jamais foi descrita pelo vereador.

Já Ivonel Dombroski, que é contador da Igreja Visão Missionária e proprietário de um escritório de contabilidade, só presta “serviços externos” ao vereador. Ele nunca foi à Câmara de Vereadores, muito embora recebesse mensalmente salário pago com verba pública do gabinete do pastor. O contador, de acordo com diligências dos promotores, trabalha diariamente em seu próprio escritório, no Sítio Cercado (distante cerca de 15 quilômetros da Câmara de Curitiba).

Agora, o Ministério Público aguarda – desde o último dia 9 – as informações funcionais e financeiras, e o controle de frequência dos servidores.

No portal da transparência da Câmara curitibana, consta que Edson Domiciano foi admitido em janeiro de 2021 como chefe de gabinete parlamentar recebendo um salário líquido de R$ 12.381,10. Seu horário de trabalho é das 8h00 às 12h00 e das 14h às 18h00.

Os três pastores seguem empregados pelo colega parlamentar. Izaías Batista de Lima foi nomeado em julho de 2022 como assessor do gabinete, com remuneração de R$ 9.521,19. Seu horário de trabalho é de segunda a sexta-feira das 7h30 às 18h30. Já Thiago Esteves foi admitido em dezembro de 2021 como assessor recebendo R$ 9.734,94.

Já o contador Ivonel Dombroski foi nomeado em janeiro de 2021 como assessor do gabinete com remuneração de R$ 9.507,19. Ele, no entanto, foi exonerado do cargo em julho de 2022.

Entre os projetos de lei propostos pelo pastor-vereador estão a criação do “dia do combate à Cristofobia” e do “dia do Conservadorismo” e a proibição do uso da linguagem neutra nas escolas municipais. Todos os projetos ainda tramitam na Câmara.

Enquanto mantém a promotoria estadual aguardando as devidas explicações, o pastor bolsonarista já se pronunciou publicamente a respeito do assunto, na Rádio Jovem Pan Curitiba: “Estão me perseguindo! Não tenho nada a esconder! Alguém deve estar incomodado, alguém queria estar no meu lugar”, disse ele.

Então, tá.